
“O verão em que Hikaru Morreu” é um dos mangás mais badalados dos últimos anos, além de ser um absoluto fenômeno no Japão. É possível afirmar isso, pois logo no lançamento do seu primeiro volume no Japão, a obra alcançou altos patamares de vendas para mais de 200 mil cópias vendidas com apenas 1 tomo lançado. Para se ter noção, esses números são superiores a alguns mangás da Shounen Jump (principal revista Shounen da Shueisha) que são considerados sucessos comerciais: “The Elusive Samurai”, por exemplo, até a época do volume 10 tinha média inferior a 100 mil cópias nas primeiras semanas; “WITCH WATCH”, também até o volume 10, tinha vendas na casa de 60 mil cópias por volume. O mesmo vale para a Shounen Magazine (principal revista Shounen da Kodansha): “Kakkou no Iinazuke”, no seu ápice de vendas, não chegava a 150 mil cópias no primeiro mês de vendas; “GACHIAKUTA”, que terá anime em julho, não chegava perto de 100 mil cópias no 1º mês.

“O verão em que Hikaru Morreu” (Hikaru ga Shinda Natsu | 光が死んだ夏) é um mangá escrito e ilustrado por Mokumokuren. A obra começou a ser publicada no Japão em agosto de 2021 na Young Ace UP, revista Seinen da editora KADOKAWA. O mangá foi um grande sucesso, daqueles explosivos, vendendo mais de 200 mil cópias pouco após o lançamento do 1º volume no Japão. A série está em andamento com 6 volumes e o 7º está previsto para 4 de julho. Esse volume #7 será lançado com direito a edição especial (inclui chaveiros). A série tem 3 milhões de cópias em circulação no Japão. O autor.a.e comentou que tem previsão de encerrar o mangá com 10 volumes no total. No Brasil, a Panini anunciou o mangá em setembro de 2022 e a editora publica a obra desde maio de 2023. A editora lançou 5 volumes até o momento.
A resenha da obra era algo que estava devendo há tempos e como a adaptação em anime da obra estreia em 5 de julho na Netflix, então esta é a ocasião mais que perfeita para (finalmente) falar do mangá no blog. ^^

Sinopse: “Yoshiki e Hikaru são dois meninos que vivem em uma certa vila. Eles têm a mesma idade e sempre estiveram juntos crescendo. Mas um dia, Yoshiki percebeu que “algo” tomou o lugar de Hikaru. Mesmo depois de saber disso, Yoshiki ainda quer que eles fiquem juntos. E assim, sua vida com o “algo” que se parece com seu amigo começa. Ao mesmo tempo, estranhos incidentes continuam ocorrendo na vila…“
- História e Desenvolvimento
“O verão em que Hikaru morreu” começa justamente com o Yoshiki e o Hikaru, que são amigos de longuíssima data, vivendo e crescendo juntos em uma cidadezinha meio isolada, cercada por montanhas e floresta, conversando brevemente enquanto tomam um sorvete. O clima é estranho, com o Hikaru falando de forma estranha, o que vai deixando o Yoshiki incomodado e desconfiado, até o momento que ele toma cuidado e pergunta se ele era mesmo o Hikaru, o que prontamente se confirma que não. Aquela “coisa” tomou a forma do Hikaru, que agora está morto, e tenta substituí-lo, copiando sua forma e tentando assumir a sua vida. A história vai acompanhar o desenrolar desses dois, de um garoto que agora, “aceita” essa criatura que está no lugar do seu ‘amigo’ falecido e os mistérios que envolvem a aparição dessa dita criatura…


Em se tratando de um horror juvenil, ele tem um clima de mal-estar muito grande. A sensação que tive lendo esses primeiros capítulos foi semelhante a sensação de mal-estar que existe no começo de “GANNIBAL – Vila de Canibais” (principalmente na adaptação para série live-action que está no Disney+), o que é muito bom, porque sempre há aquele desconforto na leitura. Mas mais do que isso, “O verão que Hikaru morreu” tem uma nuance interessante e que vai em uma linha totalmente diferente de “GANNIBAL” que é uma grande melancolia. Ler esse volume #1 é extremamente triste, beirando o deprimente e que concentra todo esse sentimento é o Yoshiki.
Há um claro tom subjetivo de romance entre o Yoshiki e o Hikaru, tanto da Hikaru, o original, gostar do Yoshiki, como do Yoshiki gostar do Hikaru. Nada é explícito, mas há um clima entre os dois, como logo nas primeiras páginas do mangá, antes do Yoshiki fazer a pergunta para o Hikaru. A reação dele é perguntar ao Yoshiki se ele iria se declarar. O papo deles também é sugestivo, como eles não quererem se separar, e não somente isso, o Yoshiki lamenta a ida do Hikaru. Ele aceita a criatura, porque para ele, é melhor ter aquilo com ele, mesmo não sendo o Hikaru verdadeiro, do que simplesmente não ter mais ele.

A autora trabalha tão bem esse clima de lamentação e melancolia, assim como o grande conflito interno entre ter essa figura que agora se passa pelo amigo, mas também por ele não ser o Hikaru. Antes do Hikaru sumir e aparecer como essa criatura, os dois estavam meio brigados, o que bate no Yoshiki duramente, já que nem uma despedida decente ele teve a oportunidade de ter e é daí que nasce esse desejo (meio controverso) que ele sente de aceitar essa criatura que agora se passa pelo Hikaru. A criatura não tem todas as lembranças do Hikaru e mesmo que as tivesse, ainda assim, não é ele. É uma mistura de fascínio, de por um lado aquela “coisa” estar aprendendo e lidando pela primeira vez com sensações e sentimentos humanos, aprendendo pequenas alegrias, como a de provar comida ou outras sensações, como se emocionar com um filme, ao mesmo tempo que a autora sempre mescla com aquele tom meio desesperador do Yoshiki não saber o que fazer, de não saber (e não conseguir) lidar com os seus sentimentos, nem saber o que fazer, além do medo que sente vez ou outra dessa figura misteriosa. Sem contar que o Yoshiki acha a aparição dele suspeita e assim que ele surge, coisas estranhas começam a acontecer na cidade.
A figura do Hikaru é uma coisa meio horror cósmico, que não sabemos bem o que é, mas que se deforma e tem um espaço grande dentro dele (literalmente). Aparentemente, ele não sente dor exatamente e tem uma cena homoerótica, em que o Hikaru coloca a mão do Yoshiki dentro do corpo dele. O Yoshiki sente tudo gelado, enquanto que o Hikaru já sente o calor de um corpo vivo e acha a sensação boa.

Há que se lembrar que, embora eu tenha falado do Hikaru em tom mais “brando”, a primeira reação do Hikaru quando o Yoshiki o indaga sobre o que ele é, é pedir para o Yoshiki não conte para ninguém, senão ele teria que matá-lo. Conforme a história progride, o Yoshiki vai se tornando, de certo modo, mais próximo do novo Hikaru, e coisas sinistras vão acontecendo, como pessoas surtando e sumindo, coisas estranhas na floresta e aparições de outras criaturas. Ainda não se sabe muito bem o que a criatura quer, do porquê ela está lá e o que deseja realmente. Ele até diz que quando encontrou o Hikaru, ele já estava morto, não sendo ele o responsável pela sua morte. De momento, ela está vivendo normalmente e alimentando uma obsessão pelo Yoshiki e essa obsessão vai criando um clima de desconforto que certamente vai culminar em problemas (e já começa a dar ruim, na verdade).
A certa altura do volume, uma personagem feminina entra na história. É uma mulher mais velha, que vai intrigar o Yoshiki, pois ela parece ter alguma noção do que é aquela coisa que tomou a forma do Hikaru e os perigos que ela pode oferecer. Ela diz que se manter próximo vai acabar fazendo com que o Yoshiki “se misture”. O que isso significa realmente? Não sabemos. É algo a ser desenvolvido ao longo da história, mas creio que não deve demorar para os primeiros sinais do que seria esse “se misturar” aparecer. Fato é que essa senhora diz que estava de sinistro na floresta, e a sensação de mal-estar que pairava por lá, está na cidade.

Para fechar essa parte, queria dizer duas coisas: a primeira é que fiquei impressionado com o trabalho artístico de Mokumokuren no mangá. Eu sigo ele.a.u no Twitter há tempos, desde os primeiros volumes no Japão, via algumas artes do autor, mas eram principalmente rascunhos e esboços e quando não, era mais das artes coloridas. Por si só, as páginas coloridas são deslumbrantes, ótimo trabalho de cores, mas o material em preto e branco é lindo! Tem tanto a beleza do belo propriamente, como a beleza do horror. Tem páginas que são um espetáculo, tanto na sua composição, como no nível de detalhe e o quão expressiva a arte consegue ser. E nessa questão de expressividade, não envolve apenas a transmissão dos sentimentos dos personagens pelo rosto, mas tudo. A composição que ela cria, várias vezes sem ter closes no rosto, conseguem passar apreensão, medo, ansiedade, preocupação, dor e por aí vai. É lindo, lindo, lindo!



E a segunda é que como a estreia do anime está se aproximando, acho importante comentar E destacar um aspecto: este é um mangá SEINEN. Por que isso é importante? Porque existe uma diferente entre um mangá que tem proposta LGBTQIA+ sendo BL e sendo de outra demografia (e aqui, vale para Shounen, Seinen, Shoujo ou Josei). Eu digo isso, porque tem muita gente que vende a obra como BL e não é assim que o mangá é pensado e comercializado no Japão. Demografias são importantes, porque não só tem uma diferenciação de público, como também tem diferença na composição de arte, na forma de quadrinizar e até mesmo, na maneira de contar a história. Não ser BL, diversas vezes não te dá garantia de que você vai encontrar a parte do relacionamento propriamente, coisa que é mais garantida em BL, a não ser que se proponha a outras coisas. E assim sendo, já vi gente falando que “Hikaru” é “queerbait” em um dado momento da publicação (não sei exatamente o porquê, não li mais a frente), só que é o que disse, não ser BL te dá muita incerteza de relacionamentos.
Mas para fechar o assunto, eu queria trazer aqui algo que a própria Mokumokuren disse lá no BlueSky:
Minha opinião de que o gênero de “O Verão Quando a Luz Morreu” é algo que os leitores têm liberdade para decidir por si mesmos permanece a mesma, mas eu o explico como “terror juvenil” porque acho que deveria ser uma história que simpatizasse com as pessoas que são excluídas de histórias sobre amor e sexo.
Acho que a chave é o “medo de não conseguir ser ‘normal’ e não ter um lugar para se sentir em casa”, que é comum a muitas pessoas, independentemente de suas características.Acho aceitável que existam histórias queer que não sejam de romance.
Então, oficialmente, tentei não posicioná-la como uma história de romance desde o início.Também acho que “não entender sentimentos românticos ou desejo sexual” é um contexto importante para uma história queer.
Sei que esta é uma parte facilmente mal interpretada, mas…A tag de gênero e a direção publicitária no site oficial nunca mudaram desde o início da série. Quanto ao alcance oficial, ela tem sido consistentemente promovida como “terror juvenil” desde o início. (É verdade que o alcance oficial é muito restrito…)
Seja qual for o gênero, e mesmo que esta história não seja um romance, eu garanto, como autor, que é uma história queer.Tradução via Google Tradutor – Fonte: BlueSky da autora

- A Autoria
Mokumokuren é um.a.e jovem mangaka. Embora se tenha um registro datado de 2013, as suas publicações (inicialmente independentes) começam a aparecer em 2019. O primeiro deles é o one-shot “Nandemo Shite kureru Doukyuusei“. Em 2021, além da estreia de “O verão em que Hikaru morreu“, ainda temos a publicação do one-shot “Period“, na Comic Gene (Shoujo) da Media Factory (que pertence a KADOKAWA). Por fim, o que se tem de mais recente é “183 Tejou no Sousakan“, um volume único que foi publicado em maio de 2023 pela Shueisha. É um mangá de mistério e investigação e foi escrito por Sari Izumi.
“O verão” é, portanto, a primeira e até então, única série do autor.a.e. Se seguir como o previsto, o mangá deve se encerrar em 3 volumes, no volume 10. Espero que após esse grande sucesso, o autor volte para contar outras histórias, pois o talento é enorme (ainda mais se considerar que é a primeira série dele.a.u)!

- A edição nacional
“O verão em que Hikaru morreu” está em publicação no Brasil pela Panini. A editora lança a obra no formato 13,7 x 20 cm, no papel Offwhite 66g, com capa cartonada e verniz localizado. O volume 1 incluiu um cartão postal de brinde. O mangá começou sendo publicado com preço de R$ 36,90 e permaneceu nesse preço até o volume #3. No #4, o mangá passou para R$ 39,90 e a partir do #5, o mangá está sendo lançado no preço de R$ 43,90. Abaixo, vocês podem ver a edição nacional em detalhes pelo vídeo abaixo. ^^
Não encontrei problemas no texto, nenhum erro de revisão e tudo flui bem. A quem possa interessar, nessa primeira edição (e primeira tiragem), o papel segura bem as pontas e quase não tem transparência, mesmo a arte sendo muito carregada de preto. Fiquei positivamente surpreso. Não ter transparência é algo que ficou mais raro de acontecer de uns tempos para cá nos mangás da Panini. Eu reforço que é na 1ª tiragem, porque a Panini está fazendo reimpressão dos primeiros volumes, então não sei dizer como está agora (bem provável que esteja com uma qualidade pior, infelizmente).
- Conclusão
“O verão em que Hikaru morreu” é um drama juvenil de horror e suspense muito bom! A história tem qualidade, tanto visual como da própria narrativa, com um potencial enorme para o desenvolvimento dela. O autor.a.e consegue estabelecer todo o clima da série já nas primeiras páginas e o segura bem durante todo esse primeiro volume. O drama queer correndo por de trás dos personagens e da impossibilidade de poder expressar esses sentimentos, seja por uma pressão social, como agora pela morte do Hikaru, dá um sabor mais especial para a leitura.
Fica a recomendação fortíssima do mangá. Infelizmente a reimpressão já está vindo com o preço atual do mangá (R$ 43,90), mas se tiverem a oportunidade de comprar (ou ler), fica a indicação. Não devem se arrepender. E em caso de dúvidas sobre embarcar nessa história ou não, dentro em breve o anime irá estrear e como a staff parece promissora, é uma boa ficar atento para a animação. ^^

- Ficha Técnica
- Título original: Hikaru ga Shinda Natsu (光が死んだ夏)
- Título nacional: O verão em que Hikaru morreu
- Autoria: Mokumokuren
- Serialização no Japão: Young Ace UP
- Editora japonesa: KADOKAWA
- Editora nacional: Panini
- Quantidade de volumes: Em andamento com 7 volumes
- Formato: 13,7 x 20 cm; capa cartonada fosca com verniz localizado
- Preço de capa: R$ 36,90 (do 1 ao 3)/ R$ 39,90 (volume 4)/ R$ 43,90 (a partir do volume 5)
- Compre em: Loja Panini/Amazon
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