polish_20250828_0956534653720971991541186194
Não volta mais...

Na noite de ontem, dia 26 de agosto, a editora Mythos realizou uma live no seu canal no YouTube trazendo atualizações de suas obras. Em um dado momento, a editora foi perguntada sobre o retorno da publicação de “Um Homem e seu Gato” (Ojisama to Neko), o que o representante da editora, Higor Lopes, disse: “Um Homem e seu Gato’, não, ‘Um Homem e seu Gato’ não vai rolar“. Mais para frente na live, uma outra pessoa perguntou sobre o mangá novamente, o que a editora disse: “Os mangás infelizmente não rolaram. Eles não tiveram uma boa resposta“. Confira a primeira resposta da editora por esse corte feito pelo BBM:

Antes de chegarmos nesse ponto, acho importante fazer um retrospecto da mais recente empreitada de publicação de mangás na Mythos:

No final de outubro de 2022, a editora anunciou por meio de uma postagem no Instagram, a criação de um Selo de mangás na editora e, vale dizer, em anos anteriores, a editora havia publicado algumas obras aqui e ali. Em dezembro do mesmo ano, a editora anunciou suas duas primeiras obras: “Azami no Shiro no Majo“, Josei da John Tarachine, e “Bus Hashiru“, Seinen da Mizu Sahara. Em janeiro de 2023, a editora lançou o primeiro volume de “Azami” com o título “A Feiticeira do Castelo” e em fevereiro, saiu “Bus Hashiru”. Meses depois, em abril, a editora concluiu “A Feiticeira” com o lançamento do 4º volume.

Em maio, veio a nova leva de licenças da editora com 3 títulos:

Essas obra foram publicadas entre julho e setembro de 2023. Nos meses seguintes, a editora anunciou mais algumas obras:

Até que chegamos em março de 2024 e a editora anuncia quatro novas obras. Esse é o pior caso até então, pois das quatro, apenas uma começou a ser publicada pela editora:

Nos eventos mais recentes, o que tivemos foi: em fevereiro de 2025 (quase um ano após a última leva de anúncios) a editora voltou a Rodada de Lives do Fora do Plástico e comentou sobre os mangás na editora. O que foi dito é que eles estariam fazendo uma pausa na linha para uma ‘”reavaliação”. Em linhas gerais, ocorreu que a editora buscou trazer novos públicos e a empreitada não deu certo, sendo que a única exceção era justamente “Um Homem e seu Gato“, chegando a comentar que o público gostava e conversava bastante com esse público da editora. Na ocasião, ainda foi dito que as obras anunciadas e não publicadas estariam passando por uma análise para ver como seria feito o lançamento (formato, se vale a pena lançar neste ano ou passar para 2026…). E por fim, o Higor comentou que a editora não estava desistindo dos mangás. Apenas que estavam desacelerando, analisando e reavaliando as obras. Para mais detalhes, sugiro a leitura deste post do BBM.

Até que chegamos na noite passada e a fala da editora quanto a “Um Homem e seu Gato”, que supostamente era o único mangá do catálogo que funcionava para eles, o que pelo visto, não era tão verdade assim. A editora lançou os 5 primeiros volumes entre Julho de 2024 e Março de 2025 e havia algo suspeito, pois um banner na loja da editora dava a entender que o mangá seria concluído no volume 5 (vale dizer que a editora havia feito a negociação dos 5 primeiros volumes para depois renovar para os volumes seguintes). O BBM até mandou um e-mail avisando e falando para corrigirem, mas nunca retornaram o contato.

Via BBM

Ao Fora do Plástico (leia aqui), a editora comentou que quando disse que “Um Homem e seu Gato” ia bem, era em comparação com as outras obras do catálogo, mas que comparado aos quadrinhos [Ocidentais], o mangá não tinha um bom desempenho. Na matéria, o representante da Mythos ainda comenta que irão encerrar totalmente a publicação dos mangás neste momento. Não descartam uma volta no futuro, mas que se voltarem um dia a publicar mangás, esse retorno tem que ser com um projeto pensado no leitor de mangás. Completaram dizendo que esse “futuro” não vai ser tão cedo.

Agora, o que temos são 2 mangás que ficarão pelo caminho (uma série curta de 3 volumes e um em andamento com 15 volumes), além de 3 obras que não verão a luz do dia pela editora.


Opinião

Eu deveria fazer um post a parte para comentar, mas não vou estar com tempo e devo ser breve. então vai aqui mesmo…

Há alguns meses atrás, lancei um texto que comentava um pouco sobre o mercado nacional e a sua (não) relação com a demografia feminina, ou seja, os mangás voltados para o público feminino (Shoujo, Josei, BL, TL…). Falei de boa parte das editoras recorrentes do mercado, mas acabei esquecendo totalmente da Mythos. Na sua breve e única passagem dentro da demografia, tivemos aquele desastre de edição de “A Feiticeira do Castelo” (papel tenebroso, capa horrorosa). No entanto, embora nunca mais tenha ido para a demografia feminina, eles tinham melhorado em algumas questões como capas e na qualidade do papel utilizado.

Fato é que nunca cheguei a dar um real para a editora, isso porque anos atrás, um membro da editora se envolveu em um caso de LGBTfobia ao xingar o uso de pronome e termos neutros. A época, o caso repercutiu tanto que a Panini fez um pronunciamento dizendo ser a favor (importante lembrar que a Mythos edita as obras da Panini), enquanto que a Mythos em si ficou em silêncio (hoje, aparentemente, as pessoas da época da editora não parecem estar mais lá pelo que o Higor comentou). Quem não lembra do caso, achei um vídeo do 2quadrinhos comentando o episódio (a partir de 0:52 no vídeo).

Outro aspecto que é meio fácil de entender o porquê certas obras não darem certo: estamos em um momento delicado economicamente, ao mesmo tempo que há um boom no interesse por mangás e na sua publicação no Brasil. E a entrada da Mythos creio que foi nessa intenção, de surfar no hype como muitas editoras tem feito (ao longo dos anos mais recentes, cada vez mais editoras aparecem lançando mangás). Porém a escolha de obras foi muito… questionável. “A Feiticeira do Castelo” é um ótimo título e gosto do trabalho da John Tarachine, “That Blue Sky Feeling” o mesmo, primeira série do Okura (que é mais conhecido por “Acho que meu filho é gay“), só que as demais publicadas, principalmente “A Bruxa Noturna”, “As Incertezas de Sumi Izumi” e “O Baile de Máscaras”, desculpe, não pareciam títulos que chamariam atenção ao ponto de a editora esperar grandes sucessos. Mesmo “A Feiticeira” e “That Blue”, sem um bom trabalho para que encontrasse seu público, realmente é difícil acreditar que daria certo.

Pegando um mercado maior e que tivemos um efeito parecido: na França, no começo da pandemia, houve um estouro do interesse por manhwas na França, ao ponto de algumas editoras se movimentarem para criar selos dedicados (a Delcourt/Tonkam criou a KBOOKS, a primeira dedicada a manhwas a aparecer, a Pika lançou a Pika Wavetoon, a Kurokawa tem a Kotoon, e por aí vai). No primeiro momento, teve lançamento de várias obras populares como “Solo Leveling” e obras “no mesmo estilo” (o que eu chamaria de “genérico”) e, sem surpresa, não demorou nada para ver obras não dando certo, o que refletiu na publicação cada vez mais espaçada de manhwas. Naquele momento, as editoras acreditavam que “lançar qualquer coisa” traria bons resultados, independente de qual obra fosse. Com o tempo as editoras foram se encontrando e hoje em dia, o que mais parece funcionar são manhwas que claramente são voltados para o público feminino e tem cada vez mais obras nesse estilo saindo por lá!

E assim, não é que essas obras não pudessem vender bem, o que também depende do que seria “vender bem”, qual a tiragem e parâmetro estão usando nessas obras, mas que ações a editora fez e o que para essas obras? Elas sozinhas tinham pouco potencial, a não ser que caísse nas graças do público e fosse sendo propagada no boca boca (“JOY” funcionou tão bem no Brasil por conta disso). Elas sendo só despejadas no mercado não iam muito longe. E, novamente, temos aquela situação clássica de que a responsabilidade recai sobre o público, quando é culpa da editora. Qualquer catálogo, de qualquer segmento, se constrói aos poucos. Não é do dia para a noite que as coisas acontecem e é completamente normal que as primeiras obras não vendam tão bem ou mesmo, não vendam. É o esperado. Daí que se trabalha em ações de cativação de público, de encontrar e chegar em público (e que ações nesse sentido a editora fez?). Não à toa, a maior parte das editoras, senão todas (?!) começam seus catálogos com obras curtas (volumes únicos e séries curtas, de até 3 volumes), porque são lançamentos curtos, que o público não precisa se preocupar com continuidade e que apresentará a editora para ele. Só depois de um tempo que as editoras costumam embarcar em séries mais longas.

E o que torna essa história pior é que, ao falar que “Um Homem e seu Gato” não seria continuado, o representante falou isso rindo, coisa que poderia ser levada como “para descontrair”, mas a grande impressão que passada é de deboche…

No fim das contas, sorte foi de “Fenrir” e “Nanahoshi”, que pelo menos, sequer começaram a serem publicadas e não correm o risco (prático) de ficarem paradas pelo caminho como “Um Homem” e “WATCH DOGS”. Quanto aos outros, especialmente “Um Homem e o seu Gato”, torço para que recuperem a licença da obra (e fica o pedido: alguém volte a trabalhar com a John Tarachine!).

Deixe um comentário