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Desde o 2º volume, me surpreendendo (positivamente) a cada capítulo...

Em janeiro desse ano, fiz a resenha do primeiro volume de “Vou me apaixonar por você mesmo assim” (leia aqui). Na ocasião, o anime estava em vias de estrear e nada melhor do que aproveitar a visibilidade que a obra teria com a animação para comentar a obra, além de ser uma boa oportunidade para também conhecer um pouco do original e ter uma noção do que viria para a animação.

Ocorre que na época, acabei não recomendando o mangá por não ter achado ele muito bom. A leitura no 1º volume me soou arrastada, a protagonista era sonsa e o casal que vinha se desenhando com o Kizuki, um dos pretendentes da protagonista, era pavoroso. O que mais tinha gostado àquela altura era a interação da protagonista com os garotos (a relação de amizade que o grupo possuía) e o contexto de uma doença que circulava e funcionava como pano de fundo para a trama já que causava impactos na vida dos personagens, como o cancelamento de eventos. E embora gostasse desses dois aspectos, eles não eram o suficiente para me manter investido em uma obra, ainda mais em uma ainda em andamento e com 10 volumes (hoje está em andamento com 12).

No entanto, eu tinha comprado os 2 primeiros volumes, então faltava 1 para ler. E não só isso, o Kyon (Biblioteca Brasileira de Mangás) me mandou mensagem me dando um motivo muito bom para continuar com a série. Então rapidamente comprei os volumes seguintes em promoções e não só a conversa com o Kyon ajudou a continuar, como o próprio mangá entrou em uma guinada boa! Todos os grandes problemas que eu tinha com o mangá foram sanados e a cada volume que lia, ficava evidente a melhora da autora em contar e conduzir a narrativa da obra. A resenha dos volumes 7 e 8 se deve em parte como forma de “redenção” ao mangá, mas também porque esses dois volumes tem eventos importantes, legais e bonitos com alguns dos personagens da série.

Dito isso, para fazer esse post, eu vou separar ele em dois momentos: o 1º será com aspectos mais gerais da série, explicitando o que eu acho que melhorou, o porquê de valer a pena conhecer o mangá (caso não conheça) ou insistir um pouco mais na leitura (para o caso de pessoas que, assim como eu, não acharam o volume 1 bom) e, portanto, sem spoilers. Enquanto que o 2º momento será comentando mais detalhes desses volumes 7 e 8 e aí sim, será com spoilers.


  • Impressões Gerais – SEM SPOILERS

Diferentemente do primeiro volume que era fechado no Kizuki e da Mizuho, que até aquele momento, era a pior coisa da série, a partir do volume 2, a autora começou a abrir para os demais personagens e as interações entre eles. Eu gosto MUITO das interações entre os personagens amigos, ou quando eles estão todos juntos e interagindo, ou mesmo quando a Mizuho fala com eles e não há uma conotação romântica. Tudo é ótimo!

Nesses primeiros volumes, a autora dedica a cada um, pouco mais de atenção, sendo que o 2º é o Shin, no 3º é o Airu, e no quarto, ela abre mais para o Shuugo. Diferentemente do que pensei que seriam os 4 garotos disputando a Mizuho, não é bem assim. O Airu, entre todos os meninos, é o mais bem resolvido com a personagem e é o que desde cedo demonstra nutrir apenas uma amizade e companheirismo com ela. Quanto aos outros três, o que gosto em cada um, é que eles têm maneiras diferentes de lidar (ou não lidar) com esse sentimento romântico que sente pela Mizuho: o Kizuki é o direto ao ponto, sempre incisivo quanto ao amor que sente pela personagem e o seu desejo de ser o namorado dela; o Shin tem uma grande questão de não conseguir se mexer e não conseguir lidar bem com o amor que sente por ela; e o Shuugo é o que acho mais triste até então, porque ele é o personagem que nem é cogitado como potencial romântico, nem a Mizuho cogita que ele gosta dela (e só o vê como amigo), como os outros garotos também não cogitam essa possibilidade e por isso, sequer o veem como uma potencial “ameaça”.

Falando mais de cada um dos meninos, o Kizuki é o mais plano entre todos e até por isso, é o que mais desinteressante. Com o passar dos volumes, minha impressão negativa com ele diminuiu. Eu vejo que a autora precisava de um personagem que fosse mais direto ao ponto e ele cumpre bem isso. O grande sacrifício, no entanto, que ele é bem raso e deixa os outros personagens mais interessantes de acompanhar, porém a versão futura dele (e eu já chego lá) parece mais interessante, por a autora aparentemente estar dando algumas camadas para ele. O Shin é um dos personagens masculinos que eu mais gosto. Acho interessante o personagem que, por um motivo ou por outro, não consegue tomar uma iniciativa e sofre por isso. Sofre tanto pela própria incapacidade de não conseguir tomar alguma ação, como também por essa incapacidade também resulta em ver a pessoa amada sendo “”tirada”” por outra pessoa (no caso, é o Kizuki). Já o Shuugo é o que acho mais deprimente, pois ele tem duas questões: a primeira é que ele prefere se enganar quanto aos próprios sentimentos, se recusando a admitir que gosta da Mizuho, porque ele vê que ao manter a imagem de amigo, ele vai conseguir se manter perto dela e não vai se machucar, ao mesmo tempo em que ele é tão “escanteado” (em grande parte, por ele próprio) que sequer é cogitado como um possível ‘concorrente’ romântico. Tem uma cena bárbara do Shuugo com o irmão dele, em que o próprio irmão joga na cara dele que o Kizuki e o Shin ficam tão tranquilos com a Mizuho ficar perto dele, pois eles sequer o cogitam como um potencial “perigo” nessa questão de amor.

E falando no irmão dele (o Tougo), ele é uma adição legal que teve na obra. O personagem não fica tanto tempo, mas gosto de como a autora o usa para agitar a trama e fazer os personagens se moverem. Ele é o que gosto de chamar de “agente do caos”, que é sempre um personagem interessante quando se sabe usar, aparecendo e passando a provocar a Mizuho (que gostava dele quando era mais nova). O Shin e o Kizuki, além de claro, o próprio irmão mais novo, já que ele sabe dos sentimentos do guri e sabe qual caminho está decidido a trilhar. E além desses três, ainda temos o Airu, que vou falar mais na parte de spoilers e é o melhor garoto da obra! Ele é o melhor resolvido com a Mizuho. Desde o começo, ele não parecia verdadeiramente interessado na Mizuho e em dado momento, até provoca os meninos dizendo que já se declarou para ela no passado. O que gosto na relação dele com a Mizuho é a amizade e cumplicidade que há entre os dois. Eles têm uma relação um pouco diferenciada em relação aos demais, com ele sabendo coisas que os outros não sabem e ela sabendo de coisas dele que os demais também não sabem. Tem momentos bem bonitinhos dos dois.

Outro aspecto que gosto da obra é que nós temos o “presente” da obra, que se passa em 2020, mas também temos o futuro dos personagens, vendo como eles estão lá em 2030, 10 anos depois. Em momentos e capítulos chave, a autora vai para o futuro e explora aspectos da vida adulta dos protagonistas. Nesse futuro, por tudo que a autora mostrou até agora, a Mizuho não está namorando nenhum dos personagens e nessas idas e vindas do presente para o futuro, a autora consegue esconder bem sobre quem a protagonista realmente vai ficar. No volume #1, era tudo muito fechado entre Kizuki x Mizuho, mas ao longo dos volumes, a autora tem conseguido mexer bem todos os personagens, de forma a não ficar totalmente claro com quem será o end game da personagem. O caminho “mais fácil” (ou esperado) seria ela terminando com o Kizuki, mas eu particularmente acho que quem ela melhor se encaixa é o Shuugo. O Kizuki é sempre intenso, enquanto que o Shin é contido até demais, e o Shuugo é o que eu considero ter melhor sintonia com ela. Eles estão mais ou menos na mesma frequência. Porém até aqui, nada concreto nesse aspecto…

E falando dessa parte futura dos protagonistas, outro ponto que eu realmente adoro no mangá é como a autora tem trabalhado na ideia do “vai todo mundo perder”. Explico: como o presente deles é na adolescência em que muitos sonhos, aspirações e desejos são colocados na roda, no futuro, a autora tem mostrado que muitos desses sonhos e aspirações não se realizaram. A Mizuho tem o grande sonho de ser mangaka, mas no futuro ela não conseguiu realizar e agora, trabalha como editora de mangá; o Kizuki abandonou a natação; o Shin, embora tenha conseguido se tornar médico, segue sofrendo pela sua incapacidade de tomar iniciativa. É um lado legal, porque mostra que nem sempre conseguimos o que queremos ou desejamos para nós inicialmente, e além disso, ela mostra também como um bocado dos personagens, de certa forma, ainda estão presos no tempo, sem conseguir seguir em frente.

De aspectos gerais, é isso que tenho gostado na série. Quis dar apenas um panorama geral nesses volumes e reiterar agora a minha recomendação para a obra. O volume #1 realmente não passa a melhor das impressões, mas eu recomendo tentar pelo menos até o 2º volume.


  • Volumes #7 e #8 – COM SPOILERS

Entrando na parte do spoiler, o volume #7 se desenrola nos eventos de fim de ano, em especial, do Natal. E depois de muito relutar, a Mizuho decide que vai namorar o Kizuki. o grande problema, no entanto, é que da mesma forma que a Mizuho não queria tomar uma iniciativa com medo da relação dela com os demais meninos, ao mudar o status de relacionamento, ela não sabe muito bem como encarar os demais meninos, em especial, o Shin, que já tinha se declarado e estava querendo ter um relacionamento com ela. Nesse momento, o Shin vai atrás dela para eles conversarem e tem uma cena super bonitinha dos dois se divertindo patinando no gelo e atirando bolinhas de neve um no outro. Apesar do Shin estar triste, o que acho legal é que ele tenta confortar a Mizuho e tirar essa preocupação dela, dizendo que eles ainda são amigos de infância e as coisas entre eles ainda estão bem. O plot twist vem na cena final do volume, quando o Airu encontra o Kizuki na praia, eles param conversar e depois do Kizuki dizer que a Mizuho sempre prestou atenção nele, o Airu o beija e diz que ela (Mizuho) não é a única que sempre esteve olhando para ele, encerrando o volume 7 de forma magistral!

No texto de Leituras de Março e de Junho, comento que sentia que vinha se desenhando que o Airu, na verdade, era apaixonado pelo Kizuki e é isso mesmo! Mas bem… eu já sabia disso! Quando disse que o Kyon me contou algo muito importante da obra era justamente sobre a cena de beijo que ocorre no final do volume 7 (e que naquele tempo, era o volume mais recente lançado no Brasil) e foi ali que decidi que eu tinha que continuar, até para ver o desenrolar que a autora faria no(s) volume(s) seguinte(s). O que eu achei que seria super arrastado de acompanhar baseado no volume 1, acabou sendo super prazeroso diante de todas as qualidade que a obra apresentou dali em diante.

Enfim, entrando no volume 8, esse volume como um todo é uma maravilha! De muita emoção e de uma delicadeza incrível! O volume começa com o Airu contando sobre quando ele se deu conta de que estava gostando do Kizuki, ainda na infância, com aquela clássica questão de que todos os garotos ao redor dele estavam interessados em meninas, falavam de meninas e até aquele momento, isso não tocava o Airu da mesma forma, e naquela mesma ocasião, ele se deu conta de que sentia algo diferente pelo Kizuki.

Conforme foi crescendo e por não saber/conseguir lidar com esse sentimento, o Airu foi se afastando dos amigos e se tornando um delinquente, como forma de escapismo. Passou a faltar na escola, a sair de casa e ficar fora, além de intimidar outros colegas. Ainda nesse começo do volume, tem uma cena boa em que o Airu é confrontado por um dos alunos da turma dele, claramente o perfil de “aluno modelo”, com o garoto dizendo que o Airu está reprimindo a verdadeira natureza e por isso agia daquela forma. O Airu não gosta nem um pouco, já que não quer pensar sobre o assunto, mas o garoto até diz que nesse sentido. O Airu e ele são iguais.

Nesse caminho de rebelião e revolta, o Airu encontra o Touya, um garoto mais velho que estava no Ensino Médio (ele estava no que seria o nosso Fundamental II) e esse personagem vai ser uma figura importante para ele. O Touya o leva para sua casa, trata dos machucados das brigas e nesse primeiro momento, oferece um lugar de conforto, onde ele não precisaria se preocupar com a sexualidade e podia ser apenas ele. O que o Touya agir dessa forma, foi conseguir enxergar através do Airu que ele estava sofrendo e usava esse sofrimento para brigar com outros garotos (descontando tudo no soco). Esse acolhimento foi importante para o Airu naquele momento.

Nos momentos seguintes, vemos até o momento que culminou na declaração dele para a Mizuho, sendo só uma tentativa meio desesperada de se encaixar na heteronormatividade e por uma linha de pensamento de que talvez, se ele se apaixonasse pela Mizuho, o sentimento que ele tinha pelo Kizuki desaparecesse e ele não precisasse mais se preocupar com tudo aquilo.

Tem outra cena bonita um pouco mais para frente com o Kizuki, Shin e Shuugo indo atrás do pessoal que o Airu estava andando para saber dele, pois fazia um tempão que ele não voltava para casa, e o Touya pergunta o que o Airu é deles, o que eles respondem serem amigos de infância e um amigo precioso. O Touya saca na hora que de todos ali, é do Kizuki que o Airu gosta e mais tarde, o manda ir embora daquilo, pois ali não era o lugar dele e que é para ele voltar para os amigos dele, deixando como recado que na situação dele, o Kizuki não seria do tipo que fugiria. Essa cena encerra o belíssimo flashback e volta para o presente, com a declaração do Airu, depois de tantos anos guardando os seus sentimentos para si.

Não que seja surpresa, mas o Kizuki rejeita o Airu, porque ele gosta (e está namorando) a Mizuho, mas diz que não quer que o Airu se afaste dele, porque ele é uma pessoa importante na sua vida e gostaria que continuassem como amigos. O outro grande ato desse volume vem na casa do Airu, na reunião de família para o fim de ano e que o Airu toma coragem para falar para mãe que gosta do Kizuki, que se declarou, foi rejeitado e que, inclusive, foi por esse motivo que ele fugiu de casa quando era mais novinho. A cena é linda, com a mãe dizendo que tudo bem, que não importa o que aconteça, ele é o filho dela e ponto!

Esse volume tem todo um arco dedicado ao Airu e que é próximo da maioria (senão todas) as crianças e adolescentes que se dão conta de que gostam de alguém do mesmo sexo. Acho brilhante (genuinamente) a forma como a Haruka Mitsui ilustra essa questão da sexualidade do personagem e a desenvolve ao longo do volume. Desde a construção de revolta, que é um dos caminhos possíveis para fugir/não encarar a sexualidade, a ele encontrar alguém que traga um certo conforto. A relação com os amigos e depois, poder (finalmente) contar para a mãe e encontrar nela um acolhimento. Lembro que li esse volume no ônibus, enquanto ia para a universidade e estava me segurando para não chorar.

Como comentário final, queria dizer que, embora não tenha dado certo com o Kizuki e eu sei que a autora não vai juntar os dois no final da série (nem faria sentido), acho que ela ainda pode fazer o Touya reaparecer e ele namorar com o Airu. O Touya foi uma pessoa importante para o Airu e acho que o motivo dele conseguir ler o Airu tão bem é por ele mesmo também ser gay. A ver que desdobramentos a série vai ter daqui para frente, mas estou bem ansioso para o que a autora vai apresentar!


O mangá está em andamento no Japão com 12 volumes, sendo que o 12º saiu agora em 12 de Agosto. Ainda não tem previsão de término para a obra no Japão, mas acho que não deve ir muuito mais longe pelo que vem se desenhando no mangá. As partes que se passam no futuro dos personagens tem aumentado mais a cada volume, e logo deve começar a fechar as pontas da obra e ir caminhando para a reta final.

No Brasil, a Panini publicou 9 dos 12 volumes. Ainda não tem previsão do 10º no Brasil. Inclusive, já tenho o 9º volume aqui, então não devo demorar para comentar o volume no blog! Reforço minha recomendação para a série que, a meu ver, é um ótimo romance!

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