“Honey Lemon Soda” é uma das adaptações mais aguardadas da Temporada de Inverno, pelo menos para a comunidade Shoujosei, isso porque a obra original, um mangá Shoujo, é o Shoujo mais vendido da atualidade, com mais de 13 milhões de cópias em circulação no Japão com 27 volumes. O anime estreou e mesmo não conhecendo o original, acredito muito fortemente que ela faz jus ao material de origem e traz um pouco de frescor em meio a tantas adaptações de obras de demografia feminina que tanto ficam a desejar.
Sinopse: “Depois do ensino fundamental sofrendo bullying, Uka Ishimori está animada para um novo começo na Hachimitsu High School. Kai Miura, um garoto legal e desinibido, senta-se ao lado dela na sala de aula. Uka lembra que conheceu Kai no ensino fundamental e com uma única palavra, ele a convenceu a frequentar a Hachimitsu. Embora seja popular, Kai apoia Uka em seus esforços para se encaixar com seus novos colegas de classe.”
“Honey Lemon Soda” é O Shoujo mais vendido da atualidade, de muita popularidade ao redor do mundo e, no entanto, a obra nunca me seduziu. Não sei exatamente o porquê, nunca foi um trabalho que eu ficava particularmente curioso em conhecer, mesmo que tivesse algum tipo oportunidade (o mangá começou a sair na França, poderia ter comprado o volume 1 para tentar, mas como disse, 0 interesse prévio), tanto que se forem buscar no Twitter do blog, poucas foram as vezes que comentei algo relacionado à obra. Fato é que anime é uma mídia com a qual eu sou mais aberto a tentar conhecer trabalhos, tanto que meu maior contato com Shounen e Seinen atualmente é por causa de animações, e vendo a estreia, definitivamente é um trabalho que merece a fama que tem ^^
A história parte da Ishimori, que é uma garota retraída, tímida, com dificuldades para comunicar o que quer e que sofreu bullying ao longo do Fundamental II, justamente por ser retraída. Esse bullying só agravou esses sentimentos nela, eliminando quaisquer confianças e autoestima. Mas, é na passagem do Fundamental II para o Ensino Médio, e após o encontro ocasional com um rapaz chamado Miura, que ela vê uma oportunidade em tentar algo novo para ela mesma e, quem sabe, finalmente conseguir mudar o seu jeito.
Nessa nova escola, ela novamente encontra o Miura, que sem querer acaba despejando refrigerante (chamado Lemon Soda) nela. O Miura tem uma postura muito direta, as vezes meio grosseira pela forma como fala, o que gera um humor as vezes meio involuntário. O anime segue, vemos que os dois se conhecem previamente, na época do Fundamental II e que os pais dela mantém uma preocupação muito grande com a filha, dado o bullying que ela sofreu anteriormente. O pai da Ishimori até comenta que as vezes vê os alunos da escola que ela está no trem e eles são sempre muito chamativos, o que eu imagino é que ele se refira a, por exemplo, eles tingirem os cabelos, coisa que é sempre vista como um sinal de delinquência e ele tenta convencer a filha para que ela se mude para uma outra escola – o Instituto Shinsei – que é uma escola de alto nível e que seria ‘mais tranquila’.
E para o azar da Ishimori, alguns alunos da antiga escola dela foram para a Hachimitsu e são eles os bullys dela. Ao saber dela na escola, eles rapidamente começam a agir e jogam os sapatos dela na lixeira. Ela repete para si mesma que ela precisa mudar, porém, isso a certa altura a aprisiona, pois a ideia fica ecoando na cabeça dela e ela não consegue dar o passo efetivo para a mudança, sempre se culpando por isso. É nessa hora que o Miura, com aquele jeito totalmente direto dele, dá um empurrão na Ishimori para que ela consiga realmente começar a se mover. No dia seguinte, ela vai e joga refrigerante no pessoal que estava bullynando ela (uma queen) e algo que achei muito precioso nesse episódio é que ela precisa se mover, mas está tudo bem precisar e pedir ajuda, não tem nada de mal em fazer isso quando não se consegue lidar com tudo sozinho, amigos são para isso afinal – mesmo que “formalmente” não tenha sido estabelecida essa amizade ainda – e o Miura atente ao pedido em uma cena muito bonitinha.
A Ishimori vive pedindo desculpas, mesmo quando o que acontece não é culpa dela, isso por se ver como um problema – uma “pedra no caminho” – e no final do episódio, ela pede desculpas, mas é um pedido totalmente diferente dos demais, é algo aliviado e que soa como um agradecimento, não como uma inconveniência da parte dela. O Miura pode ser direto até demais, ao ponto de soar grosseiro, mas existe uma gentileza nele muito bacana. É um tipo de gentileza um pouco diferente do que se possa estar acostumado, mas está ali, de fato. Enfim, linda cena.
O anime segue uma narrativa muito bem estruturada, pois a introdução nos entrega que os dois protagonistas se conhecem, mas não dão contexto. Após a OP, a equipe vai dando mais e mais informações ao longo do episódio, mostrando tudo aos poucos e para que o público vá absorvendo essas questões envolvendo a personagem e se interessando mais por ela, até o momento de juntar todas as partes no final e dar uma linearidade a todos os eventos narrados.
Por fim, é legal entender o porquê do título ao longo do episódio. A bebida Lemon Soda é evocada frequentemente ao longo do capítulo e graças ao Miura – o “Querido” Lemon Soda – que ela consegue sair do estado em que ela estava presa. Além disso, gosto muito como os olhos dos protagonistas, quando mais próximos, se parecem (na minha cabeça) com limões sicilianos (os amarelinhos) ^^
O que gosto muito em Honey Lemon Soda é que ele remete aos “Shoujos clássicos” no sentido de ter uma estrutura narrativa muito típica de contar romance escolar em Shoujo. Ele muito me lembra a esse tipo de obra, por volta dos anos 2000 até o começo de 2010, e até o estilo de arte da Mayu Murata – a autora do mangá – parece algo muito da década passada ou retrasada. Esse estilo traz um ar muito bacana e um clima muito gostoso de acompanhar e aliado a tudo isso, temos uma direção que realmente sabe o que está fazendo. Quem dirige o anime é o Hiroshi Nishikiori, que trabalhou na direção de animes como “Azumanga Daioh”, na série “Index” e mais recentemente, no anime “Delicos Narusei”. Embora eu nunca tenha visto nenhum desses animes, “Azumanga” é um clássico do humor e é muito elogiado pela comédia – e dá para ver que o diretor acerta muito no timing das piadas colocadas ao longo do episódio – e “Delicos Narusei” é um anime com vampiros cuidando de crianças e que foi muitíssimo elogiado por algumas amigas minhas.
Ele sabe trabalhar muito bem com o material original. Não só a montagem do episódio foi ótima, como há cenas muito lindas, com iluminações muito quentes, que combinam com a narrativa, além dos bons enquadramentos das cenas. É uma história muito simples, mas muito bem contada e que por isso, é muito cativante!
A J.C. STAFF é um estúdio que produz muitos animes e muitos animes ao mesmo tempo, não à toa, eles estavam com mais de 10 animes AO MESMO TEMPO na temporada passada. O resultado é muito claro: muita coisa com animação pedindo socorro, outras com qualidade bem aquém e aqueles com animação melhor, como a 5ª temporada de “DanMachi”, tiveram problemas de produção e atraso no lançamento de episódios. Fiquei bem preocupado quando o anime foi anunciado para o estúdio, mas felizmente, a Shueisha investiu aqui e é um dos animes mais bonitos que o estúdio apresentou nos últimos anos. Não sei se a animação vai se manter na mesma qualidade que a apresentada nesse 1º episódio. Eu espero muito que sim e que eles estejam com um cronograma bom para que não sofra atrasos no decorrer do lançamento.
É muito raro ter animes vindos de alguma obra de demografia feminina que tenham uma produção chamativa. Recentemente, tivemos “Yubisaki to Renren” que se destacou como um grande espetáculo e mais recentemente, outros animes “okays” nesse aspecto foram “Meu Casamento Feliz“, que é muito bem feito e está tendo 2ª temporada agora, além de “7th Time Loop” e “Senpai wa Otokonoko“, do ano passado. O mais comum é ver produções que chegam a dar tristeza de ver e só nesse começo de temporada, eu já vi dois assim (“Douse, Koishite Shimaunda.” e “Kisaki Kyouiku kara Nigetai Watashi“). Ver algo tão bonito, tão bem feito e tão bem cuidado, é realmente emocionante pensando nesse contexto, ao mesmo tempo que é triste, pois para que para um material de demografia feminina tenha esse tipo de tratamento, ele precisa ser O mangá da editora. “Yubisaki” era O grande Shoujo da Kodansha, assim como “Honey Lemon” é O Shoujo da Shueisha e “Meu Casamento Feliz” é O Shoujo da KADOKAWA/Square Enix.
Fica a extrema recomendação anime. Não tenho dúvidas de que será um dos animes que mais valerão a pena ver dessa temporada, além de ser uma ótima pedida para quem gosta de um bom romance ^^