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Poucas leituras para comentar...

Estamos em meados de agosto e estou publicando as leituras de dois meses atrás… Esses meses não tem sido muito fáceis (o que tem refletido na pouca quantidade de mangás que consigo ler no mês) e lidando com as aulas da universidade, estágio, provas e trabalhos, esses tempos tem se mostrado como um verdadeiro desafio manter o blog atualizado. E é por isso também que não tenho escrito resenhas (tenho tentado postar pelo menos duas por mês), o que também leva ao atraso desses textos de leituras.

Enfim, em junho, fiz poucas leituras, sendo que metade delas tem texto próprio no blog. A outra metade, comento em detalhes. Vejamos as obras abaixo!


L’Internat des Fleurs #1

Em “L’Internat des Flurs” (O Internato das Flores), a Asumiko Nakamura fez o primeiro Yuri da sua carreira! O que gosto no cenário da obra é que a autora foi para os internatos homoparticipativos para ambientar a história. Esse tipo de cenário é clássico tanto para o BL como para o Yuri, já que as primeiras obras explorando a homossexualidade nessas duas categorias foram nesses ambientes estritamente masculinos/femininos (isso lá nos anos 1970/1980).

É comum nas obras da Asumiko que mesmo obras básicas (ou tradicionais) ela consiga montar a obra e a narrativa de maneira que ela se sobressaia sobre as demais e que realmente se destaque. Ela consegue com “Doukyusei” e repete o feito aqui. É um mangá básico, com o romance de duas garotas que tem seus problemas (a Rubi precisa lidar com o divórcio dos pais, enquanto que a Steph é órfã) e ambas não conseguem se comunicar claramente como se sentem. Além das duas, ainda temos um elenco de apoio e conflitos entre essas garotas que culminam em amores não correspondidos. Tudo ganha um charme especial graças ao estilo único da Asumiko Nakamura.

– Mostre-me…

Aliás, torço para que, assim como ela fez no BL, depois de uma obra “para todos os públicos”, ela explore assuntos, temáticas e situações mais ‘sombrias’ do aspecto humano. Depois de “Doukyusei”, a autora escreveu obras como “Kaori no Keishou” (de 2 volumes) e “Double Mints” (volume único), e ambos trabalham mais da psique humana e suas relações. Espero que ela siga no mesmo caminho com o Yuri, ou melhor dizendo, espero que continue a explorar Yuris no futuro.

Capa japonesa do primeiro volume de “Kaori no Keishou
Capa japonesa da nova edição de “Double Mints

Deixamos o texto de apresentação para mais detalhes:


Vou me apaixonar por você mesmo assim #5 e #6

Desde que li o volume #2 do mangá e venho comentando eles aqui no blog, faço questão de falar e reforçar o quão crescente a série tem sido. Do 1 para o 2, já tem uma diferença na qualidade narrativa grande a cada volume, e vai ficando cada vez mais discrepante o quão melhor o mangá está e evidenciando mais a progressão da autora em contar a história. E atenção! Terá spoilers para quem não leu esses volumes.

No volume #5, temos duas questões principais: o festival escolar que foi cancelado devido a progressão da doença que serve como pano de fundo para a obra; e a viagem de acampamento que os personagens fazem. Nesse volume, o grande protagonista foi o Shin, que finalmente decidiu se mover e tomar alguma atitude. E digo isso, não só pelo lado dele gostar da Mizuho, mas o personagem finalmente percebeu/entendeu que se ele não fizer nada, só vai nutrir arrependimentos na sua vida. O festival que seria cancelado, e que seria o último que eles poderiam aproveitar de fato, e que ele pediu para que fosse realizado. O pedido foi atendido pela diretora da escola, desde que durasse apenas um dia e fosse realizado apenas entre os estudantes da escola.

Nessa parte do Festival, algo que gosto é que vemos um pouco dos eventos passados na perspectiva do Shin. Por exemplo, quando o Kizuki beija a Mizuho no dia do aniversário dela, ele viu os dois. Quando eles eram mais novos, o Kizuki contou para o Shin que gostava da Mizuho e a reação dele foi de que estaria torcendo pelos dois e até incentivava o Kizuki de ir atrás dela, sempre naquela perspectiva do personagem que fica só de telespectador na história. Mas depois de tudo isso, ele chegou a conclusão de que passou da hora dele começar a se mover, querendo ele mesmo ser incisivo e mostrar para a Mizuho que ele também gosta dela e tem um desejo grande de namorar com ela.

Esse aspecto ganha mais volume na segunda parte quando ocorre o acampamento. O Kizuki segue com aquele jeito mais bobão dele, mas sempre no modo “atacante”, até o momento que o Shin consegue ficar sozinho com a Mizuho. Eles conversam e dá um toque sugestivo que, se continuasse daquela forma, eles não conseguiriam manter o que eles têm. Até o ato final do volume que é o Shin dando um beijo na Mizuho. Eu acho legal a Mizuho ter medo de mudança. Ela foge do Kizuki, porque sabe que se ceder, a maneira que ela interage com ele e com os outros garotos vai mudar, da mesma forma que sente medo de que, se algo der errado, toda essa relação de amizade deles e do grupo vai ruir.

Essa página ficou linda demais!

O volume 6 é, em grande parte, o Shin dando investidas na Mizuho que, como eu disse, sente medo e receio de embarcar em um relacionamento com qualquer um dos dois (Shin ou Kizuki) pelo medo das coisas mudarem e não serem mais aquele grupo de amigos de antes.

No futuro, em 2030, quem finalmente dá as caras é o Kizuki, que até então, não tinha aparecido nessa versão futura dos personagens. Ele e a Mizuho parecem terem ficado em um clima estranho (evidenciado pelas conversas que ela tem com o Airu) e que até esse ponto, não sabemos o porquê, mas o tomo termina com um gancho envolvendo essa versão dele do futuro… O Airu do futuro também não tinha aparecido até então, mas entre todos os garotos, ele parece ser o melhor resolvido na questão da amizade com a Mizuho. Então fazia sentido ele ainda não ter aparecido. E sem surpresa, ele segue sendo amigo dela, com uma certa confidencialidade entre eles. Inclusive, nesse volume, mostram mais do contexto de como foi a declaração do Airu para a Mizuho alguns anos atrás.

E falando no Airu, tem um bom tempo que eu acho o personagem muito queer coding e esse volume mostra mais cenas que reforçam essa impressão. Na cena da declaração do Airu, fica claro que ele faz isso com um certo desencargo, como se namorar com ela fosse esclarecer algo para ele. A cena que melhor ilustra isso vem no fim de um dos capítulos em que, ao ver a Mizuho abraçada com o Kizuki, ele pensa que “Não aguenta mais todo esse sofrimento”. Como eu disse, em momento algum eu sinto que ele realmente goste romanticamente da Mizuho, pelo contrário. A relação amical entre eles parece bem estabelecida. O que eu acho é que, na verdade, o Airu é apaixonado pelo Kizuki. Tem várias cenas ao longo desses 6 volumes que são bem sugestivas para isso e pela maneira como ele reagiu ao ver o Kizuki e a Mizuho juntos, imagino que não deva demorar para vermos quem é o motivo do seu sofrimento…

Um comentário mais a parte: eu vejo algumas pessoas comentando que a autora não sabe o que é uma pandemia pela maneira que ela tem feito a questão da doença no mangá. Mas o que acho que as pessoas esquecem ou ignoram é que não é do interesse da autora retratar exatamente como é uma pandemia. O mangá começou em 2020, quando a COVID-19 já estava a todo vapor, mas assim, todo esse período foi triste e a grande intenção da autora, a meu ver, é só ilustrar como personagens estariam lidando com uma doença que afetasse a vida escolar dessas crianças e adolescentes. Por isso a questão da doença no mangá é só um pano de fundo, e ocorrem cancelamentos de eventos, tem-se recomendações para evitar aglomerações e coisas do gênero… Se a autora quisesse retratar como foi a pandemia com isolamento social etc., simplesmente não teria mangá. E se a pessoa quisesse ver isso no REAL, era só ligar a TV. No mangá, precisamos, às vezes, abstrair algumas questões, ainda mais que a Haruka Mitsui não está fazendo nenhum desserviço na maneira que decidiu abordar a questão no mangá. Prefiro muito mais esse tipo de abordagem do que algo “sério” como ocorreu na novela “Amor de Mãe“, que a autora acabou colocando informações equivocadas.

Esses dois volumes são mais “de transição” para mim. Os dois próximos (que ganharão post próprio e aparecerão nas Leituras de julho) são bem mais interessantes e tenho a comentar!


Home Far Away

“Home Far Away” foi o outro mangá que escrevi texto de apresentação em junho. Ele é um BL e é o trabalho de estreia da autora, a Teki Yatsuda. O mangá se passa nos Estados Unidos do final do século XX e conta a história do Alan (um adolescente) e do Hayden (um jovem adulto). Os dois são frutos de lares disfuncionais e que de maneiras diferentes, desgraçaram a vida de ambos. O Alan é vitima de estupro pelo padre da igreja da cidade, enquanto que o Hayden via sua mãe sofrer de violência doméstica. O encontro dos dois ocasiona não só em um momento terno, mas também como aquela luz no fim do túnel.

– Não renuncie a ser você mesmo, ok? Como você se chama?
– Alan Saverio.
– Eu sou Hayden Stewart.

O mangá é uma história bem trágica. A autora fala sobre como pessoas muitas vezes são condicionadas a trilhar caminhos destrutivos (com elas mesmas, mas também com quem está ao redor) pelo reflexo e impacto que o âmbito familiar e social têm nelas. No final do mangá, eu estava completamente arrasado. É muito triste, mas é recompensador, eu diria. É um ótimo mangá e acho ainda mais incrível quando penso que esse é o primeiro mangá da Teki Yatsuda.

Post de apresentação:


Sirius – estrelas gêmeas

Em junho de 2023, eu resenhei “Alter Ego” aqui no blog (leia aqui), mas faltava ler e resenhar “Sirius”, o outro GL da autora que a MPEG publicou algum tempo depois. A época do anúncio e durante grande parte da divulgação da MPEG, o que foi dito é que o mangá era ainda melhor que “Alter Ego” e lendo, eu discordo um pouco.

O que temos aqui é a história da Dani, que vinha trilhando um caminho brilhante como tenista, porém esse caminho teve que ser interrompido de forma abrupta quando ela descobre um problema cardíaco e passa mal depois de uma partida. Ela, então, decide ir para uma cidade no interior da Espanha para esquecer dos seus problemas e lá ela conhece a Blanca, uma garota radiante que é apaixonada por astronomia. Apesar do primeiro encontro das duas não ser nem um pouco positivo e ambas terem uma impressão bem equivocada uma da outra, as duas aos poucos vão se aproximando, o que ajuda a Dani a lidar com seus sentimentos tortuosos.

A Dani tem uma relação complicada com a mãe. A mãe foi uma estrela do tênis e desde muito cedo, a Dani nutria o sentimento de seguir esse caminho também por ter a mãe como essa estrela. Porém, aos poucos, a relação entre as duas foi se desgastando, porque a sua mãe só a via como um “instrumento” para trilhar esse caminho da vitória, o que gerava pressão e cobrança, ao ponto da Dani não conseguir mais suportar e ela realmente ruir. Quando ela passa mal durante uma partida por causa de um problema de saúde do coração, precisa se afastar completamente do tênis (e da mãe).

Nesse meio tempo, fugindo da mãe e se refugiando em uma cidade do interior da Espanha, onde ela pretende fugir dos problemas e aproveita se tratar de um local onde ninguém (ou quase ninguém) sabe quem ela é. O primeiro contato dela com a Blanca é meio caótico, porque a Blanca estava andando com umas garotas bem… problemáticas e nesse momento, a Dani passa mal e precisa ser levada ao hospital. Apesar desse desastre, a Blanca encontra a Dani no trabalho dela e não é que as duas se dão bem?! A Dani é bem ‘na dela’ e introspectiva, enquanto que a Blanca é aquela pessoa expansiva e agradável. O manganhol tem uma ideia de a personagem ser ‘a estrela mais brilhante’ e esse brilho surgir como um novo caminho para se “olhar para frente” e a meu ver, a autora é bem sucedida nesse conceito com a personagem.

O mangá segue durante boa parte do tempo focado no desenvolvimento da relação entre as duas. Segue como um slice of life com toques de comédia, até o momento de conflito que se dá quando a Blanca descobre sobre a vida da Dani e se sente culpada por “toda hora” falar dos seus sonhos, enquanto que a garota está lá meio que perdida e sem rumo (o que ela acha que pode ter sido indelicado da parte dela). Eu gosto muito de quando a obra se apega nesse romance, porque é uma parte gostosa de acompanhar. Mas meu problema começa quando ela quer chegar no drama da Dani com a mãe.

Não é que “Sirius – estrelas gêmeas” seja ruim, mas a obra condensa muito mais coisas do que comporta e como resultado, alguns aspectos da narrativa soam superficiais ou mesmo vazios. E grande parte disso está na relação da Dani com a mãe, porque ela fica diluída no volume inteiro (é uma coisa sem profundidade) e quando chega o momento de resolver, precisa que ir tudo meio rápido e não fica tão legal assim. É bem complicado, pois poderia ter sido melhor se houvesse um espaço maior.

A meu ver, ele tem conteúdo para pelo menos mais um volume. Se fosse uma série curta de dois ou até três volumes, acredito que seria uma obra melhor na sua totalidade, pois haveria mais espaço e tempo para que a autora desenvolvesse os personagens e os problemas que os afligem. Além disso, eu tenho uma critica com a montagem do volume em algumas partes, porquê a maneira como a autora decidiu contar alguns aspectos da narrativa (de novo, com a relação mãe x filha, principalmente). Como eu disse, é diluído e a autora decide começar essa abordagem por um flashback da Dani comentando ter perdido o rumo. Eu não consigo me apegar ou simpatizar com a situação, porque não acompanhamos a relação dela com a mãe. Não vemos o começo, o desenrolar e a queda. Começamos quando está ruim e como a autora ainda precisa dar atenção a outras coisas da história, como o romance das protagonistas, essa parte da narrativa que, em partes, é o que faz ela rodar, sobra.

Tem obras que começam quando o personagem já perdeu tudo e são bem sucedidas em contar a narrativa, mas aqui, eu realmente sinto uma falta de tempo para conseguir abraçar essa carga dramática. E por causa disso, eu avalio que “Alter Ego” é melhor do que “Sirius” pelo simples fato de que ele é uma história muito mais simples e consegue render mais nessa simplicidade. Eu sinceramente cortaria esse drama e se fosse para ele acontecer, eu optaria por algo que fosse mais simples de desenvolver e resolver, e não algo tão pesado e complexo, com todo esse trauma da personagem, a doença dela e as limitações que ela agora tem somado ao drama com a mãe.

Dito tudo isso, ainda recomendo “Sirius”. Como romance, ele é bem agradável. Então não teria porquê não recomendar, mas entendo também quem acabou não gostando da obra ou não gostando taaanto assim.


Daqui uns tempos, se tudo correr bem, sai o texto de Leituras de Julho e algumas outras resenhas. ^^

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