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Apenas Ele e Ela e nada mais importa...

Aqui estamos para mais um post de apresentação, o 13º da nossa série! Nesta postagem, aproveitando que fevereiro é mês de Dia dos Namorados em vários países do mundo, incluindo o Japão, iremos falar do pouco conhecido “Veil”. A obra apareceu na França por meio da Noeve Grafx (foi o primeiro mangá da editora na época) e que chamou muita atenção em seu lançamento no país.

“Veil” é escrito e ilustrado pela KOTTERI!. O mangá foi publicado em 2019 na revista Comic Ruelle da editora Jitsugyou no Nihonsha e inicialmente foi completo em 2 volumes (originalmente lançados juntos em 15 de novembro de 2019). Após a licença da obra na França, a editora e a autora ficaram tão felizes com a repercussão, que o mangá teve continuação e em dezembro de 2020, lançaram o 3º volume. Atualmente, o mangá conta com 6 volumes lançados e um novo volume é publicado anualmente. ^^

Para falar do mangá, utilizarei os 2 primeiros volumes da edição francesa ^^


Veil é sobre Ele e Ela… Ele é um policial e Ela é cega… Ele encontra Ela em uma rua qualquer, em algum lugar. Enquanto ela vagava, perdida, tentando achar um emprego, Ele é “atacado” e “roubado” por um grupo de crianças mercenárias da região que buscam doces (rs). A partir disso, os dois começam a conversar e assim, iniciam a relação entre os dois. Nessa história, nomes, lugares e situações não importa. Apenas “Ele” e “Ela” são importantes e é tudo que precisamos saber para apreciar o desenrolar dessa história linda, íntima e, por vezes, sensual.

– Eh, bem… à delegacia de polícia, então…
– Me empresta seu braço?
– Eh? Ah. claro!
– Você vai tomar cuidado com os buracos também, certo?
– Certamente…

Quando uso “ele” e “ela”, é de fato a forma que iremos encontrar o mangá se referindo aos personagens. Em momento algum ao longo da história é mencionado o nome dos dois (só sabemos o nome deles ao final do primeiro volume, por uma ficha de personagens que consta características e curiosidades deles) e acho que tudo isso, da maneira que é posto e a forma como a KOTTERI! expressa a narrativa, torna tudo absolutamente genial. Ao longo dos capítulos, que são todos curtinhos, vamos acompanhando os dois e o destaque são ELES em essência. Nunca é dito os nomes dos locais onde estão, das ruas, das pessoas ao redor deles, nem mesmo o país onde a história se passa é dito (mas sabemos pelas roupas que é em algum local da Rússia) e isso cria uma simbologia tão preciosa que é um encanto.

A autora, para realçar mais esses detalhes, cria uma composição colorífica de forma que os capítulos tendem a serem trabalhados com poucas cores. Normalmente são 3 cores predominantes. Os cenários são todos com um tom mais bege/pêssego, enquanto que os protagonistas são coloridos em cores mais fortes e vibrantes para evidenciá-los. Eu adoro, porque é sempre pra enaltecer os dois, pois quando estão juntos, nada mais importa. É como uma redoma protegida em que um tem ao outro e isso os faz bem, os deixa felizes e satisfeitos.

– Hum… …. Mais dez minutos…
– Sim, você já me disse isso há uma hora. Eu adoraria comer alguma coisa ao meio-dia.

Após esse primeiro capítulo que marca o ponto em que eles se conhecem, temos um salto no tempo, com eles já sendo mais próximos. Todos os capítulos são mais ou menos independentes e tendem a não ter um ponto de conexão entre eles. É uma história bem episódica e que, no entanto, a autora consegue compor de uma forma tão interessante que isso parece um detalhe, que você consegue compreender como chegou aquele ponto a relação deles. É como se fossem conhecidos seus que vez ou outra você os encontra e observa o que estão fazendo em dia x. São causos do cotidiano que na sua totalidade, constroem uma narrativa completo.

Vale dizer que no começo, eu achei que eles seriam denominados como namorados até o fim do(s) volume(s), mas até o 2º isso não acontece. Eles com certeza são mais que amigos, mas menos que namorados? Novamente, entra na lógica de que isso não é importante. Eles têm um ao outro e isso que importa. É uma relação tão íntima que chega a ter cenas que você sente que está vendo coisas que não deveria, que aquele é o momento deles e você está invadindo a privacidade de ambos.

Nesse começo da história, tem três capítulos em particular que eu acho primores de qualidade, exímios em tudo que se propõem, além de evidenciarem tudo que pontuei sobre o casal até aqui. Não vou descrever os capítulos em detalhes aqui no texto, porque embora não seja spoiler e sejam capítulos curtos, acho que é mais sobre ler e sentir do que conseguir descrever propriamente. O 1º capítulo é o que encerra o volume 1 em que Ela tem curiosidade sobre o rosto Dele e pergunta se poderia tocá-lo para sentir como ele é; o 2º é mais ou menos no meio do volume 2, e na cena os dois saem dos seus quartos e se encontram no meio da noite, ambos estão sonolentos, conversam brevemente e voltam para seus quartos para dormir; o 3º é o capítulo que encerra o volume 2, em que eles fazem uma troca: Ela não gosta de fumar (Ele sim), então tenta experimentar, enquanto Ele, que não gosta de bebidas alcoólicas fortes (e Ela sim), tenta experimentar a que Ela estava bebendo. Os dois não gostam, mas acaba que Ele fica bêbado e adormece no sofá, ela vai para o lado dele e eles dormem juntos.

– Vá para capa a cama, quero dizer…
– Eu gosto muito de estar com você.
– Hm. Eu também…
– Boa noite.

É um mangá com pouco texto e que em geral, passa bem rápido! É uma leitura bem ágil e entre os capítulos, sempre tem alguma(s) arte(s) da autora com algum dos personagens ou o casal para servir como encerramento e inicio de uma nova história. Há rascunhos, esboços e desenhos chibis também, além de eventualmente ter uma página com monólogos dos personagens comentando alguma situação que envolva o outro (Ele falando Dela ou Ela falando Dele). O mangá tem umas 130 páginas por volume e umas 20-30 delas são puramente de artes da autora, sem qualquer texto. É quase um (lindo) artbook.

E falando na arte, nem preciso dizer o quão esplêndido e encantador o desenho da KOTTERI! é. É absolutamente LINDO. Uma arte que ora é bastante adorável e fofa, ora é absurdamente sensual. Tem páginas belíssimas em que ela trabalha diferentes tipos de pintura, algumas mais sólidas com uma pintura em poucas cores mais escuras, em outras uma explosão de cores com iluminação e sombreamento.

E falando na KOTTERI!, ela está na ativa desde o começo dos anos de 2010 (pelo menos), sendo tradicionalmente uma autora de Seinens. E seu trabalho mais relevante até meados de 2019 era “Nana Toshi Monogatari” (na França a Noeve publica com o título “Chronique des 7 cités”), mangá de 5 volumes, cujo roteiro era de Yoshiki Tanaka (romancista muito conhecido por “Ginga Eiyuu Densetsu” e “Arslan Senki”). A obra foi publicada entre abril de 2017 e setembro de 2019, sendo completo em 5 volumes. Em 2019 veio “Veil”, que foi quem de fato lançou a autora aqui no ocidente, e em 2020 ela começa “Dobaku no Hana” (na França, sai pela Noeve como “Fleur du Désert”), contando com roteiro de Ryoe Tsukimura. Por fim, em 2022, ela lança “Ashita no Teki to Kyou no Akushu wo”, adaptação em mangá de uma novel de mesmo nome escrita por Carlo Zen, autor de “Tanya the Evil”. Esses dois últimos trabalhos estão em andamento com 3 volumes cada.

Embora ela seja mais conhecida como KOTTERI! por causa de Veil, seu principal pseudônimo é Ikumi Fukuda, nome que ela usa para publicar seus trabalhos Shounens/Seinens ^^


Enfim, Veil é aquele tipo de leitura excelente para dias mais tranquilos ou que você esteja precisando de algo mais fofo para ler. É um mangá de leitura muito tranquila e fácil, personagens ótimos e com uma construção de narrativa excelente. Como é episódico, dá para ler um ou outro capítulo, parar e retomar posteriormente sem problema (embora eu ache difícil conseguir parar lendo só um ou dois capítulos, rs).

Nos vemos em março para outro post de apresentação e abaixo, segue o vídeo mostrando a edição francesa do mangá e a lista com as demais obras que já recomendamos no blog: