“Canção do Amanhecer” figura, talvez, como um dos títulos BLs de mais ascensão e notoriedade do cenário japonês dos últimos anos. O mercado de mangás (BL ou não) produz diversas obras anualmente e, no entanto, “Canção” conseguiu se impor como um título de muita projeção seja na revista onde ele é publicado (a qual começou praticamente junto ao começo dela), seja no próprio ocidente onde boa parte dos grandes mercados internacionais já o licenciou.
Esse post está pronto há alguns anos, creio que desde meados de 2021, só esperando o momento da obra ser licenciada no Brasil ou eu ter vontade de publicá-lo. Acabou que a licença veio primeiro, então cá estamos nós. E lembrando: essas postagens de apresentação que começam com “Conheça xxxxxxx” mangá, elas são feitas para dar uma introdução a obras legais de demografia feminina (BL faz parte) que acho interessante que mais pessoas conheçam, ou que vão ser lançadas no Brasil, e o público procura alguma opinião sobre a obra para decidir se irá comprar ou não.
“Canção do Amanhecer” como no título nacional, ou “Lullaby of the Dawn” como no título utilizado na França, ou ainda “Yoake no Uta” (夜明けの唄) como no original, é um mangá escrito e ilustrado por Ichika Yuno. O mangá começou a ser publicado em 2020 na revista fromRED da editora ShuCream. E por sinal, a revista fromRED é muito nova. Sua estreia aconteceu junho de 2020 e Yoake estreou na 3ª edição da revista em agosto de 2020. A obra está em andamento com 5 volumes publicados, sendo que o 5º está saindo hoje no Japão. O mangá foi vencedor do Chil Chil BL Comic Awards de 2022 na categoria Best Comic e a obra tem 850 mil cópias em circulação, sendo um dos mangás mais vendidos da revista até hoje.
Ichika Yuno é uma mangaka relativamente nova. Apesar de sua estreia ter acontecido por volta da metade da década passada, sua principal atuação era fazendo doujins. Em 2014 ela participou de uma antologia chamada “Itai Ero” (痛いエロ) publicada pela editora Fusion. Podemos dizer aqui que sua estreia foi em 2020 já com “Yoake no Uta”, sendo esta sua primeira obra independente e série longa (mais de um volume).
Na história do mangá somos introduzidos a um mundo onde há indivíduos que são escolhidos para proteger a população de criaturas que emergem do mar. Os escolhidos tem características em comum, a exemplo de seus cabelos brancos. Assim que essa característica aparece já na infância, essas pessoas são retiradas de seus lares e colocadas em cabanas situadas em locais estratégicos para que elas lutem contra os seres que surgem do mar todas as noites. Elva é um desses escolhidos e noite após noite, ele luta contra essas criaturas, até que um dia ele encontra Alto, um jovem cidadão da vila que ele protege. Em um determinado dia, Alto foi responsável por entregar mantimentos à Elva e se encanta com sua presença, passando a segui-lo e cuidar dele, seja nos cuidados com o corpo ou com sua alimentação. Afinal, o que são as criaturas que aparecem do Mar Negro todas as noites? Quais segredos rondam por de trás destes seres? E como ficará a relação de Elva e Alto?
Há uma série de coisas intrigantes e até fascinantes em “Yoake no Uta“, coisas essas que me fazem ter interesse na série. Começamos a história na infância do Alto, vendo um pouco do seu cotidiano, até o momento que é designado a ir levar os mantimentos para o Elva. Como mencionado, o contato inicial gera um interesse e uma fascinação muito grande por parte do Alto. E como as pessoas ao redor tem uma tendência de ter medo, assim como tem casos de atacar ele como vemos crianças atirando pedras na morada do Elva, o Alto vê aquilo com um certo olhar de que não podia deixar isso continuar daquela forma. Ainda mais que o Elva mora sozinho. Ele passa a noite inteira lutando contra as criaturas que vêm do mar e ele tem muito o que fazer e ninguém para ajudar. O Alto sente certa compaixão e resolve ajudar.
Até aquele momento, a grande maioria das pessoas tinha medo do Elva numa perspectiva de “medo do desconhecido”, ao mesmo tempo que acham ele sinistro por viver sozinho. A história de lutar contra criaturas vindas do mar acabou virando mais uma superstição entre os moradores. Eles não vão até o mar durante a noite e meio que se tornou um folclore contado. É interessante ver como a relação entre os “escolhidos” e as pessoas comuns mudou ao longo dos anos, visto que inicialmente, as pessoas viam esses escolhidos como heróis salvadores, porém a imagem que eles passavam mudou. As pessoas passaram a temê-los ao invés de serem gratos, e de certa forma, até veem como um certo fardo, uma obrigação a ser cumprida, mas que não desrespeitam exatamente.
O Alto quem passa a desconstruir essa visão e não somente isso, é ele quem passa a “levar” o Elva, no sentido dele sair da bolha dele. Sua expectativa de vida era muito curta por ser um dos escolhidos, então não há motivos para criar relações, se mantendo naquela casinha, tendo apenas contatos ocasionais com algumas pessoas responsáveis por vigiá-lo. E aliás, há todo um mistério do porquê o Alto consegue reverter os efeitos do Mar Negro (as manchas nas mãos e pés que se espalham pelo corpo) e para além disso, ainda temos aspectos sobre o psicológico dessas pessoas. O Mar Negro não só afeta suas capacidades físicas, como o psicológico delas. Tem alguma coisa no mar que mexe com a cabeça de quem vai enfrentar os seres. A solidão e o desespero os consome dia após dia. São pontas apresentadas nesse começo e que despertam interesse dos rumos que o mangá vai levar.
Sem contar que a trama aparenta não querer ficar só na costa da cidade. Ao que tudo indica, iremos conhecer mais “escolhidos” no decorrer do mangá enquanto acompanhamos o Alto tentando descobrir os mistérios por de trás destas criaturas, em busca de uma solução para libertar o Elva e os demais escolhidos desse cruel destino de solidão e sofrimento. A história também traz um certo frescor por ser um BL um pouco diferente do que estamos acostumados a ver dessa demografia no Brasil. É um mangá com um potencial enorme a ser explorado e que tem muito chão pela frente!
Sobre a arte, já deve ter ficado claro pelas imagens que deixei aqui, mas ela é linda! Seja nas cores ou no desenho em preto e branco. As cenas de luta são muito bem feitas, os designs de personagens são ótimos, bem como a ambientação do mundo que a história passa. A Ichika Yuno vem de mais uma nova leva de mangakas e vejo potencial para ela. Seu primeiro mangá serializado em uma revista e que está despertando olhares no Japão e com o primeiro volume sendo reimpresso por diversas vezes, alcançando a marca de 850 mil cópias em circulação. Sem dúvida alguma é uma mangaka para se ficar de olho.
Espero que tenham gostado do texto e que ele sirva para tê-los deixado ao menos curiosos com a obra! Abaixo tem um vídeo mostrando o volume 1 da edição francesa em detalhes e logo após, uma lista com os demais posts de apresentação que fizemos até aqui. ^^
- A sign of Affection (Yubisaki to Renren);
- À tes côtés (Hananoi-kun to Koi no Yamai);
- Switch me On (Honnou Switch);
- Goodbye my Rose Garden (Sayonara Rose Garden);
- Le Requiem du Roi des Roses (Baraou no Souretsu);
- Perfect World;
- Les Chroniques d’Azfaréo (Azufareo no Sobayounin);
- Sasaki et Miyano (Sasaki e Miyano);
- Ocean Rush (Umi ga Hashiru Endroll);
- Burn the House Down (Mitarai-ke, Enjou suru);
- Good Morning, Little Briar-Rose (Ohayou, Ibarahime);
- Cherry Magic;
- Veil;
- Mon mari dort dans le congélateur (Watashi no Otto wa Reitouko ni Nemutte Iru);