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Vida, morte, depressão e solidão... Esses e outros temas em uma obra de vampiros na modernidade!

Embora não tenha (pelo menos por enquanto), nenhuma adaptação, seja para série ou filme live-action ou anime, “FANGS” é um BL que cativou uma base de fãs e não é à toa: seu material é de exímia qualidade. Aproveitamos, então o Halloween que se aproxima para falar e recomendar esta obra ^^

“FANGS” (ファングス) é um mangá BL escrito e ilustrado pela Billy Balibally. A obra começou a ser publicada em junho de 2019, na edição de julho/2019 da revista Lynx, uma revista bimestral da editora Gentosha. A obra teve seu 1º volume encadernado lançado em julho de 2020 e a partir disso, o mangá seguiu ganhando um novo volume a cada 2 anos, mais ou menos, com o 2º saindo em março de 2022 e o 3º em fevereiro de 2024. Com o lançamento do volume #3, o mangá ultrapassou a marca de 150 mil cópias em circulação no Japão e meses antes do lançamento desse volume, a autora anunciou que o mangá está se encaminhando para o clímax e, consequentemente, para sua conclusão. Assim, se supõe que a obra deva terminar com 4 ou 5 volumes.

Edições de Maio/2021 e Novembro/2022 da revista Lynx com “FANGS” na capa

“FANGS” segue a história de En, um jovem de 19 anos que foi atacado por vampiros e acabou sendo transformado em um. Ele é encontrado por Ichii, um vampiro que trabalha na organização FANGS, que funciona como um órgão público que cuida de vampiros nos mais variados sentidos (alimentação, vida e saúde). A partir disso, Ichii vira o protetor e guardião do En, agora sendo um vampiro novato. Para garantir um sistema de alimentação dos vampiros sem criar conflitos com os humanos, a FANGS organizou um sistema de parceria entre vampiros para que eles supram suas necessidades mutualmente. En, que agora precisa aprender sobre sua nova realidade, chama atenção de vampiros velhos por seu “sangue virgem” e em meio ao pânico desta situação, ele autodeclara ser parceiro do Ichii…

– Eu me chamo Ichii, da seção de Proteção do departamento de Saúde e Segurança de FANGS. Eu vou, provavelmente, estar responsável por sua segurança por algum tempo.
– I… Ichii… san? Eu não entendo nada… do que você está falando…

Eu conheço “FANGS” há alguns anos e até cheguei a ler os capítulos do volume #1 na época. Lembro que gostei do mangá e por isso, anos depois, comprei a edição francesa da obra. No entanto, como meu francês não é lá aquelas coisas, quando tentei ler pela primeira vez em meados do ano passado, não deu certo. Li umas 10 páginas e não fluiu. É no começo de 2024 que tento ler de novo e consigo (com facilidade até) e para minha surpresa, posso dizer que saí do volume gostando ainda mais da obra do que quando li esses primeiros capítulos da primeira vez.

Quando você olha a capa e um pouco da sinopse, à princípio pode-se pensar que vai ser uma história “básica” (não que isso seja ruim) com personagens (muito) bonitos, mas fato é que quanto mais se avança na leitura do volume, mais profunda, interessante e reflexiva a obra se torna, o que não só pode ser uma bela surpresa por si só, como mostra a habilidade da autora em contar essa narrativa de uma forma bem legal, se utilizando do arquétipo dos vampiros, mas trazendo consigo assuntos tão atuais quanto relevantes, além de transpor os personagens para o mundo atual, que nos é mais palatável.

– Eles ficam aqui durante horas, isso me irrita. Eles podem ter todo tempo do mundo, mas eu gostaria que eles não esquecessem que eu sou humana.
– Hein?
– Ah, sim. Mariko é humana. É minha esposa ❤️
– Hein? O que?!

A parte do “sangue virgem” e mesmo relacionamento entre o En e o Achii acabam sendo meramente um chamariz que rapidamente a autora consegue resolver e trabalhar coisas que, ao meu ver, complementam o todo e tornam o enredo mais rico. Como o En é muito novo nesse mundo e o Achii trabalha para a FANGS, a autora utiliza disso para apresentar algumas bases e conceitos daquele mundo, regras e até ‘códigos de ética’. Passamos esse volume com os dois personagens visitando pessoas e locais e vamos conhecendo suas histórias.

Para esse primeiro tomo, temos três casos centrais: o casal Aogiri e Utsugi; o Masaki com sua esposa Mariko e o restaurante deles; e o Sugi, que particularmente, acho que é o caso mais interessante do volume e o mais triste. Partindo do começo, com o Aogiri e o Utsugi, a autora introduz conceitos comuns do mundo dos vampiros como o sistema de parceiros, que no caso deles serve como casal. No café com a Mariko e o Masaki, vemos um casal formado por uma humana e um vampiro, mas que lidam bem com o fato dela envelhecer e ele não. Mas não só isso, ali também mostram redes de apoio feitas para o acolhimento de vampiros e que revelam a informação interessante quanto à solidão que vampiros sentem, o que também nos leva ao último caso, o Sugi que perdeu seu marido.

Acho essa última parte do volume muito avassaladora, porque a autora aborda assuntos comuns como a solidão, depressão, o estar sozinho e o perder quem nós amamos, especialmente se for de forma tão repentina. A eternidade pode ser cansativa e no caso do Sugi, o marido dele foi queimado pelo sol, o que deixou ele perdido e sem rumo, com a eterna vontade de morrer (e a certa altura, impossibilidade disso), sendo motivo de seu tormento. A maneira como a autora expressa esse assunto é muito deprimente e melancólico, o que por sua vez traz uma perspectiva que nos pode ser recorrente, especialmente porque os índices de suicídios seguem crescendo. Esse tipo de abordagem traz um certo frescor às tramas de vampiros, pois não costuma ser um tipo de assunto comum nos mais famosos. É mencionado, inclusive, como vampiros tem se tornado cada vez mais solitários e que eles tentam encontrar outros vampiros solitários para que pelo menos possam cuidar um do outro e fazer companhia.

– Mas… mesmo agora, eu me pergunto se ele o fez rapidamente. Se fosse o caso, ele poderia ter me convidado para juntar-se a ele… É mesmo um mistério, a vida. Eu já encontrei tantas pessoas quanto há estrelas no céu… mas ele é o único que eu amei a este ponto. Eu me sinto só.

No que envolve o casal principal, eu gosto bastante deles. A autora consegue desenvolver ambos rapidamente, mas sem ficar corrido, possuindo uma boa química. As coisas desenrolam naturalmente, mesmo sendo um espaço de tempo relativamente curto em uma trama que está bem movimentada. Coisa acabam acontecendo, como a autora conseguir aproveitar bem o espaço que tem para contar sua história. Há momentos slice entre os capítulos em que os dois conversam, que o En expõe alguns de seus sentimentos, seja verbal ou mentalmente, e que eventualmente terminam em sexo.

O desenho da autora é um deslumbre a parte! Designs de personagens absolutamente LINDOS e com um senso estético fabuloso! Qualquer página com quadros inteiros que focam em algum detalhe ou mesmo aqueles que mostrem roupas, são um primor de qualidade. Uma composição de cena que aproveita bem as páginas, mas que também não carrega de texto, e por consequência, traz agilidade e fluidez na leitura. É tudo muito bem encaixado!

– Agora você entende o que isso significa? É mais forte que nós.
* Ah… sem dúvida… eu sou um deles agora *

Falando um pouco da autora, a Billy Balibally começa a sua carreira como mangaka mais ou menos no começo dos anos 2010. Embora tenha participado de uma antologia de contos BL (intitulada Nakeru BL), seu primeiro trabalho solo a ser lançado e compilado em volume é “Barairo no Kenkyuu to Hanakurafu Kimi“, publicado na revista Daria (Frontier Works) e lançado em 2014, se tratando de um volume único composto de 4 histórias. Entre 2015 e 2017, também na revista Daria, ela publica “Asa to Mitya” de 2 volumes. No período de 2015 e 2016, ela publicou “Mayonaka no Orphée” na revista Be x Boy da editora Libre Shuppan. Após participar da coletânea “Kemono/Jingai BL Special” (Libre Shuppan), em 2018 ela lança “WOLF PACK” na Daria, onde virá a ser compilado em volume único em 2019. E por fim, em 2019 ela lança “FANGS“. No campo de ilustração, a Billy ilustrou a série de novels “Youhei no Otoko ga Megami to Yobareru Sekai“, escrita por Mimiko Nohara. As novels foram lançadas entre 2020 e 2022 e completa em 3 volumes.

Capas de, respectivamente: “Barairo no Kenkyuu”, “Asa to Mitya” #1, “Mayonaka no Orphée”, “WOLF PACK” e “Youhei no Otoko” #1

FANGS trata de assuntos interessantes e pertinentes, comuns à sociedade, e considerando ser uma obra de vampiros, a sensação de leitura se torna ainda mais satisfatória pela maneira como a autora expressa em sua arte. Os personagens são ótimos, o desenho é lindo e embora o romance seja recorrente e em meio a situações de comédia, ainda há um clima de mistério e suspense delicioso. ^^

Por fim, encerro esse post mostrando a edição francesa em detalhes e deixo também a lista com os demais posts de apresentação que já fizemos até aqui! 🙂

Os porns que a autora desenha são um arraso tremendo!

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