Uma história fofa, com um casal fofo e que traz um tema importante ^^
Olá meus queridos! Começaremos aqui uma série de postagens (que não tem periodicidade) comentando obras não anunciadas no Brasil e que são uma boa de se conferir. A ideia é focar em mangás que consideremos BONS e que são mais “alternativos”. São títulos que normalmente não tem espaço (infelizmente) no nosso mercado brasileiro. Com isso em mente, iremos falar de obras Shoujos, Joseis, Yuris/GLs ou BLs, e a intenção é apresentar para vocês uma obra, falar da proposta inicial, o que ele tem de bom, porque achamos que pode dar certo aqui no Brasil, sem muitos spoilers – isso a gente deixa para uma resenha caso o mangá de fato chegue aqui -, apenas uma introdução com o intuito de incentivar você a querer ler o título e pedir a obra para as editoras brasileiras ^^. Alguns deles, como esse daqui, vamos deixar melhor indicados qual editora que acreditamos que ‘combine’ mais com o título. Mas a proposta aqui é clara: mostrar que temos interesse e que desejamos esses mangás aqui. Provavelmente não seremos ouvidos, porém não custa nada tentar…
E para começar essa série de posts, iremos falar do maravilhoso “A Sign of Affection”, ou no original, “Yubisaki to Renren” (ゆびさきと恋々), mangá shoujo escrito e ilustrado pela dupla de mangakas Morishita Suu. A obra é relativamente recente. Começou a ser publicado na edição de Setembro da revista DESSERT (Kodansha), lançada em Julho de 2019. A obra é publicada desde então em capítulos mensais e possui 5 volumes lançados, sendo que o 5º foi publicado no dia 13 de Setembro. A obra rapidamente começou a chamar atenção no Japão, vendendo mais de 200 mil cópias por volume e tendo sido concorrido a alguns prêmios como o Next Manga Award 2020 (17º lugar) e Kono Manga ga Sugoi! 2021 (9ª colocação), além de ter vencido o grande prêmio da Décima Primeira Edição do An An Manga Awards.
Estarei usando como base para falar do mangá a edição francesa lançada pela Éditions Akata. Como disse acima, a ideia é levantar os pontos fortes e o que mais me agrada na obra. Não irei dar spoilers dos eventos do mangá, mas focando apenas uma visão geral do título ^^
Na história de Yubisaki to Renren, iremos acompanhar Yuki, uma garota de 19 anos que tem deficiência auditiva e que num belo dia, é ajudada por Itsuomi, um garoto pouco misterioso da mesma faculdade. A partir dessa ajuda e o contato com as libras, os dois criam uma relação – inicialmente de amizade – e passam a adentrar um no mundo do outro. Ela querendo saber mais sobre ele e o jovem querendo entender mais do mundo dela: “Por te conhecer, senti o mundo mudar”.
Eu acompanho os trabalhos de Morishita Suu desde “Hibi Chouchou” (completo em 12 volumes; inédito no Brasil) e desde lá eu sou completamente apaixonado pelas obras da dupla. Amo a forma absurdamente fofa de conduzir a narrativa e fez eu me tornar um fã dos autores. Uma das coisas legais de se acompanhar autores ao longo de suas publicações, é ver como eles podem melhorar e aprender com os erros de um mangá para o outro. Hibi Chouchou era (relativamente) bem criticado pela forma lenta do casal progredir, principalmente pela falta de conversa entre os personagens (e isso é verdade), sendo até estendido demais na opinião de alguns. Na obra seguinte deles “Short Cake Cake” (completo em 12 volumes; inédito no Brasil), o ritmo foi melhorado e apesar de não ter lido o mangá inteiro – por falta de oportunidade -, vejo falarem que a forma de condução da narrativa é melhorada (e os personagens conversam, rs). Até que chegamos aqui em Yubisaki e vemos todo o reflexo dos acertos das obras anteriores deles aqui. Se em Hibi a narrativa podia ser engessada e o casal não interagia, aqui é completamente o oposto. O mangá está diretamente ligado a comunicação dos personagens junto com as dificuldades de se expressar e por isso, todo o mangá gira em torno dos protagonistas tentando se entender. Não necessariamente de forma romântica, mas indo atrás para saber mais sobre a língua de sinais, o Itsuomi tem o interesse na língua e querendo saber mais sobre ela, também temos a Yuki tentando conhecer mais do Itsuomi e entender como ela se sente em relação ao protagonista.
A conversação é tão presente que o desenvolvimento dos dois é muito rápido, ao mesmo tempo que é muito natural. Os autores conseguem fazer os capítulos renderem, sempre com muito conteúdo e em poucas páginas. É muito agradável e igualmente bom acompanhar os diálogos, em especial quando feita na língua de sinais, que começa a ganhar mais espaço no segundo volume, no momento que Itsuomi passa a interagir mais diretamente com a Yuki. A interação é um ponto chave para a história e para terem noção, o volume 2 se passa praticamente num único cenário com os dois sentados batendo um papo, conhecendo um ao outro em meio as dúvidas com diferentes sensações de estar com alguém que é muito diferente de você. E meus amigos, que material rico. É um volume que flui TÃO bem. Os diálogos são tão interessantes. A forma que os autores desenham e expressam os sentimentos é tão dinâmico, tão agradável, que você vai lendo e quando menos se espera, já acabou o volume <3
Quem já teve contato com outros trabalhos dos autores, sabem que os mangás deles costumam ser bem fofos e Yubisaki não é diferente. O casal, as situações que estão envolvidos e todo o ambiente respira “açúcar”. É absurdamente fofo, daquelas sensações de deixar o coração quentinho e querer morrer (no bom sentido). E se em Hibi o romance demorava a engatar, Yubisaki parece ser bem mais objetivo nesse aspecto. A Yuki não demora muito a entender como se sente em relação ao Itsuomi e embora o mangá não explore muito a perspectiva dele, há nuances que mostram que o protagonista pode ter interesse romântico nela. Li 8 capítulos e temos bons indicativos de que esse namoro não deve demorar muito para sair do papel ^^
Um ponto legal também é que os personagens já são adultos. Apesar o ambiente ainda ser, tecnicamente, uma escola, eles serem maiores de idade e universitários, abre um leque maior de potenciais desenvolvimentos e caminhos para a história possa prosseguir. A forma de lidar com adversidades é diferente. O Itsuomi está viajando mundo afora constantemente. Ele vai para diversos países e tem contato com diferentes culturas. Como que isso será visto pela Yuki e como isso pode impactar no relacionamento deles é bem intrigante. Esse pequeno aspecto dá uma maior variabilidade do que eles fossem adolescentes que tem mais limitações por conta da idade (principalmente) e maturidade.
É importante dizer que “Yubisaki” tem uma “pegada” diferente de outras obras que abordam a surdez, como “A Voz do Silêncio” (resenhamos o volume 1). Enquanto que A Voz do Silêncio trata sobre o bullying e a exclusão social para com as pessoas deficientes, sendo bem incisivo em suas críticas à sociedade, Yubisaki não é assim. É um dos temas da obra, mas a forma de abordar é diferente. O enredo trata mais sobre a comunicação entre os personagens, sendo esta a que uni (conectou) os protagonistas. Acho importante ressaltar isso, pois pode passar uma impressão um tanto errada do que o mangá está propondo, gerando decepção na hora da leitura. Claro que a forma que os autores trabalham aqui não é romantizada ou isenta de qualquer tipo de paralelo. Serve bem para ilustrar algumas dificuldades que a Yuki passa, ao mesmo tempo que é excelente que tenhamos obras tratando desses temas, visto que é importante falar sobre, onde indiretamente se cria interesse no assunto e debates são gerados em cima. Por exemplo, a Yuki comenta em um determinado momento que a família dela não sabe língua de sinais e que por isso, usa o celular e cadernos para a comunicação. É importante ter isso em mente, pois o não saber a língua, torna muito mais difícil a comunicação com surdos. O Brasil tem como 2ª língua oficial a língua de sinais, mas ela não é ensinada nas escolas (não normalmente), não fazendo parte do currículo escolar. O importante nesses casos (em que o foco não é necessariamente uma crítica) é não fazer desserviço, e até onde li, Yubisaki to Renren está bem longe disso ^^
Também não é como se o mangá fosse feito completamente ‘às cegas’. Tem muita pesquisa. Inclusive, foi confirmado pelos próprios autores que ambos estudaram sobre a língua de sinais e como deveriam abordar certas temáticas no mangá. A dupla tem até mesmo uma pessoa surda – Yuki Miyazaki – para fazer consultoria de como eles devem mostrar as libras, além de contar suas experiências pessoais para os dois e assim eles terem uma base de como abordar e fazer as cenas, além de terem lido sobre o assunto e entrevistado professores de escolas de surdos. O Nachiyan (arte) até comentou que precisa tomar cuidado com a quadrinização, porque o shoujo se expressa muito pelas reações dos personagens, além do texto escrito. O desenho é importante para transmitir como o personagem se sente. E como aqui a língua de sinais é presente, ele precisou se adaptar para conseguir mostrar tanto a comunicação da Yuki com o Itsuomi, ao mesmo tempo mostrar como ambos reagem (por suas expressões) durante as cenas. Recomendo muito a leitura da entrevista que eles deram para a Kodansha EUA sobre a produção do mangá.
Enfim, se você gosta de um romance fofo e uma narrativa levinha que traz um tema importante e pouco debatido, Yubisaki to Renren (A Sign of Affection) é uma excelente sugestão. Fico muito feliz de ter acompanhado Morishita Suu no decorrer de suas produções e digo aqui que Yubisaki to Renren tem tudo para ser o melhor mangá que a dupla já fez até o momento. E como deu para notar, os mangás deles não costumam ser muito longos. Yubisaki está com 5 volumes atualmente e dá para especular que se encerre na casa dos 10 ou 12 volumes, conforme o padrão dos autores 🙂
Bom, espero que tenham gostado dessa primeira postagem. Recomendo MUITO o mangá. Se caso você tenha se interessado, vá atrás dele. Se de fato lhe agradar e você tiver interesse em adquirir a obra, peça para as editoras. Na minha visão, o mangá é a cara da NewPOP e seria legal ver a editora trabalhando novamente com um mangá que traz uma protagonista surda, como fizeram com “A Voz do Silêncio”. Sendo um mangá ainda curtinho, fica melhor ainda para os padrões da editora :). Aqui você pode deixar a sua sugestão para a NewPOP no Cantinho de Sugestões (que também está fixado no Twitter oficila deles). Para a JBC, peça no Indique JBC. E para pedir para a Panini ou Devir, mande uma mensagem por DM no Instagram das editoras ^^.
E vamos de mandar mensagem/sugestão pra newpop, muito obrigada por esse trabalho maravilhoso, vocês são incríveis!!!
De nada! Fico feliz que tenha gostado.
Vamos torcer para nossos desejos serem atendidos ^^