É outubro e, portanto, mês de Halloween. Logo, o mês pede recomendações temáticas para a ocasião! No ano passado, escolhemos falar de “FANGS“, BL da Billy Balibally e neste ano, escolhemos dois trabalhos para apresentar e recomendar no blog. O primeiro é “BOYS OF THE DEAD“, um BL sobre zumbis, e mais para o fim do mês, falaremos de um Shoujo sobre vampiros…
“BOYS OF THE DEAD” é uma obra escrita e ilustrada por Tomita Douji. A obra foi publicada ao longo de quase dois anos (entre fevereiro de 2019 e dezembro de 2020) na revista Canna da editora Printemps Shuppan. O mangá foi concluído em volume único. A publicação no Japão rendeu bons destaques para a autora que, a época, era o seu primeiro mangá sendo lançado de forma impressa no Japão, como 6º lugar no “BL Awards 2021” por Melhor Design de Capa e 37º lugar na categoria de Melhor Mangá no “Kono BL ga Yabai! 2022“.

Para falar da obra, estarei utilizando a edição francesa do mangá, que saiu por lá de forma impressa em fevereiro de 2022 (de forma digital, foi publicado capítulo por capítulo entre abril e agosto de 2021) pela Akata.
“BOYS OF THE DEAD” é uma coletânea com três histórias. Elas funcionam de forma independente, com algumas pequenas conexões, mas todas envolvem zumbis e como as pessoas interagem (ou não) com essa realidade, os problemas que elas vivenciam, o que sobrou da organização social, que ruiu graças a infestação. Como são histórias curtas, para esse post, vou comentar brevemente o que se trata aquela história e o que acho de mais interessante nela, sem adentrar nos pormenores, senão, perderia completamente a graça da leitura.
No primeiro conto (William and Adam) temos a história de dois homens, o William e o Adam, que chegam em uma lanchonete no meio da noite procurando uma bateria para o carro e algo para comer. Enquanto o Adam vai trocar a bateria do carro, ele pede para que o atendente da lanchonete fique de olho no seu irmãozinho, o William. Nesse meio tempo, o William conversa com o atendente e revela a verdade: eles não são irmãos. Na verdade, o William está sendo feito de refém pelo Adam, que desde o encontro deles, vem mantendo ele em cárcere e abusando sexualmente dele constantemente. O que vemos a partir daí é todo o flashback desde o momento do primeiro encontro, até o momento que os dois chegam nesse restaurante. O que acho legal nesse conto, que é o menor entre os três, é que ele mostra sobre relações doentes. Relações essas que estão para além do modo zumbi e que, na verdade, pode até ser uma alegoria para retratar essa situação.

Na segunda história, Linus and Conor, que talvez seja a minha favorita, temos outros dois personagens. O Linus e o Conor vivem sozinhos em uma casa isolada no meio da floresta. Perto dali, tem uma pequena vila com uma igreja e um cemitério. O soar do sino indica que alguém morreu e logo será enterrada no cemitério. Ao cair da noite, os dois se esgueiram para o cemitério e desenterram o cadáver recém enterrado para pegar partes do corpo e levar para comerem. Nesse dia, porém, algumas coisas dão errado, o que leva uma dupla de policiais a seguir uma trilha e encontrar o local que os dois vivem, levando a alguns desdobramentos bem inesperados.
Tem duas coisas que gosto nessa história: uma delas é um plot twist envolvendo o casal que me deixou um bocado surpreso, já a outra envolve essa dupla de policiais. Eles eram um casal, ou melhor, são, só que eles não podem manter um relacionamento público por causa da reprovação da igreja e da população local, o que faria com que ao menos um deles fosse expulso da vila, fazendo com que um deles decida se casar com uma mulher para manter as aparências. Novamente, a autora se utiliza desse cenário apocalíptico para mostrar que sempre quando há uma crise, uma das vertentes que tendem à ascender é ligada a uma religião e mais do que isso, mostra que mesmo com problemas maiores, humanos morrendo, fome, escassez de recursos e uma questão de segurança, o preconceito continua vivamente nas pessoas, ao ponto de continuarem mantendo segregações e forçando minorias a se manterem escondidas ou à margem, pois sofreriam de violência, seriam mortes etc…
Essa é a história que o casal é mais bacana. Eles têm uma relação bonitinha e são super lindos juntos. É uma história trágica, como todas as outras são (por razões e circunstâncias diferentes), mas é muito boa!

– Hum? Estou te ouvindo
– Qual crime condena a usar esse tipo de máscara?
Já na 3ª e última história intitulada “Me and Lawrence”, temos o Raymond, um jornalista que está sendo perseguido por uma horda de zumbis e que como medida desesperada, pula dentro de um lago e segue até uma casa que fica no meio dele. Lá, ele é socorrido pelo Lawrence, um jovem que aparentemente está sozinho, mas que ele diz viver com o irmão mais velho, que saiu há algum tempo e ainda não voltou. Os dois, então, passam a conviver naquela cabana, com o Raymond anotando sobre suas experiências e vivências no meio do caos, até que o Raymond começa a perceber algumas coisas estranhas…
Essa é a história que acho mais perturbadora entre as três. A parte que perturba é justamente o ato final, então não vale a pena contar aqui, mas revela aquele sentimento doentio (que de certa forma, está presente em maior ou menor grau nos três contos) e que bem, é uma experiência realmente. Vale dizer que, ao fim desse conto, vemos um personagem que aparece lá no primeiro capítulo.

– Golfinhos… em um lago?
– Esse lugar… é realmente especial. Eles estão sempre juntos. Na minha opinião, eles são irmãos.
O que gosto nessa coletânea e algo que aprecio em histórias de apocalipse/fim do mundo, são quando os autores aproveitam esses cenários de falência social para explorar o que pode haver de pior no ser humano e na maldade humana. São momentos que não só deflagram situações degradantes, como são nesse tipo de cenário de desesperança, sem ação organizacional a nível social, que se pode extrapolar um pouco e montar cenários e situações do pior tipo. Não que esses temas, como estupro, já não sejam bem explorados em cenários de sociedades “funcionais”, mas eu gosto desses momentos de cenários irreais, que em muitos, não são tão irreais assim se você abstrai uma coisa e outra, para ‘denunciar’ essas coisas. Nós, enquanto ser humano e sociedade, tendemos a ver esses cenários distantes, distópicos ou irreais como sinais de barbárie, mas eles elucidam bem como nossas sociedades já são a barbárie (estamos vendo o genocídio de uma população quase que em tempo real e pouco ou quase nada está sendo feito efetivamente, ao ponto de ser quase “naturalizado”). E como eu disse no começo do post, essa situação de zumbis, na verdade, pode ser só um meio da autora retratar relacionamentos complexos, violentos e tóxicos. Tem histórias que são mais desconfortáveis que outras, ao mesmo tempo que há cenas genuinamente bonitas no meio desse caos todo. É uma beleza caótica que traz sensações mistas bem interessantes.

Sobre a autora, a Tomita Douji começou a carreira em 2018, publicando os one-shots “Slaying the Monster” e “Utsukushii Monotachi“, ambos lançados na revista Afternoon (Seinen) da editora Kodansha. Já em 2019, é quando ela publica “BOYS OF THE DEAD” na Canna (Printemps Shuppan). Meses após a conclusão de “BOYS”, em fevereiro de 2021 ela começa a publicar “Tomura Jokyouju no Asobi” na revista Manga Goraku, da editora Nihon Bungeisha. Essa obra é escrita por Kaoru Toi e teve 2 volumes lançados (e vale menção, a obra foi recomendada pelo Junji Ito). Desde o lançamento do 2º volume (lá em meados de 2023), o mangá está em hiatus. De lá para cá, a autora não publicou mais nada autoral, porém vez ou outra, ela tem desenhado capas de romances, o mais recente foi “Baka Bakashi“, de Tsubame Rando, lançado em maio de 2025. No site da autora, diz que em 2025 ela está “preparando para serialização”, então pode ser que tenhamos algo dela no próximo ano. ^^

Não cheguei a ler os 2 one-shots dela, mas foram publicados na França, na mesma época que “BOYS OF THE DEAD”. Um dia eu leio e comento eles no blog. O que mais fiquei com vontade de ler foi “Tomura Jokyouju”, que parece bem interessante (sobre um detetive investigando causos misteriosos). Em todo caso, acho o trabalho da autora bem sólido, ainda que ela tenha poucos mangás publicados. Espero ver mais dela no futuro 🙂
Deixamos a recomendação. Esse é um BL um pouco diferente do que vemos usualmente, e pode ser uma boa pedida para quem está buscando algo para além de romance! Assim que possível, nós deixaremos o link do vídeo mostrando a edição francesa do mangá e na sequência, a lista com todas as obras que já recomendamos no blog. Nos vemos no fim do mês para a recomendação de “Kuro Bara Alice“, da Setona Mizushiro.
- A sign of Affection (Yubisaki to Renren);
- À tes côtés (Hananoi-kun to Koi no Yamai);
- Switch me On (Honnou Switch);
- Goodbye my Rose Garden (Sayonara Rose Garden);
- Le Requiem du Roi des Roses (Baraou no Souretsu);
- Perfect World;
- Les Chroniques d’Azfaréo (Azufareo no Sobayounin);
- Sasaki et Miyano (Sasaki e Miyano);
- Ocean Rush (Umi ga Hashiru Endroll);
- Burn the House Down (Mitarai-ke, Enjou suru);
- Good Morning, Little Briar-Rose (Ohayou, Ibarahime);
- Cherry Magic;
- Veil;
- Mon mari dort dans le congélateur (Watashi no Otto wa Reitouko ni Nemutte Iru);
- Canção do Amanhecer (Yoake no Uta);
- Vampeerz;
- Entre nos mains (Kakeochi Girl);
- L’histoire de papa, papa et moi (Boku no Papa to Papa no Hanashi);
- Whispering – Les voix du silence – (Hisohiso -Silent Voice-);
- & (AND);
- Nina du Royaume aux étoiles (Hoshi Furu Oukoku no Nina);
- Don’t Fake your Smile (Niji, Amaete yo.);
- FANGS;
- Rouge Éclipse (Sora wo Kakeru Yodaka);
- Petit requin (Odekake Kozame);
- Et plus si affinités ? (Majime ni Fujun Isei Kouyuu);
- L’amour est au menu (Tsukuritai Onna to Tabetai Onna);
- Gene Bride;
- Enfer et contre toutes (Jigoku no Girlfriend);
- Ton visage au Clair de Lune (Uruwashi no Yoi no Tsuki);
- Remember Me, la magie de l’amour (Shi ni Modori no Mahou Gakkou Seikatsu wo, Moto Koibito to Prologue Kara (※Tadashi, Koukando wa Zero);
- L’Internat des Fleurs (Mejirobana no Saku);
- Home Far Away (Haruka Tooki Ie);
- Como Conheci a Minha Alma Gêmea (Unmei no Hito ni Deau Hanashi);
- Les Noces de l’Or et de l’Eau (Kin no Kuni Mizu no Kuni);
- Mr. Mallow Blue;

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